terça-feira, 27 de dezembro de 2016

POEMA DO SILÊNCIO

Poema do silêncio


Sim  ,  foi por mim que gritei .
Declamei .
Atirei frases em volta .
Cego de angùstia e de revolta .

Foi em meu nome que fiz ,
a carvão  , a sangue , a fiz ,

sátiras e epigramas nas paredes
nas paredes que não vi serem
necessárias e vòs vedes .

Foi quando compreendi que nada
me deram do infinito que perdi
- que ergui maus alto o meu grito
e perdi o meu grito e pedi mais
 infinito .

Eu , o meu rico dr baixas e grandeza ,
eis a razão das èpi  tràgi - cómicas empresas
que sem rumo , levantei com sarcasmo , sonho
 fumo ...

O que buscava era em qualquer , ter que desejava .
febres de mais ânsia de altura e abismo , tinham
raìzes  banalìssimas de egoísmo .

Que sò por me ser verdade sair deste meu ser
 formal  e condenado , ergui  contra os céus o
imenso engano de tentar o ultra humano , eu
que sou   tão humano !

Senhor meu Deus em que não creio  !
Nu aos teus pès , abro o meu seio
procurei fugir de mim    , mas sei que s
ou meu exclusivo fim .

sofro assim , pelo que sou , sofro por este
 chão  que aos  meus pès se me pegou , sofro
por não poder fugir .
Sofro por ter prazer em me acusar e me exibir !                                                                                                      
Senhor meu Deus em que não creio , porque
 ès minha criação !
( Deus  para  mim , sou  chegado a perfeição ... )

senhor dà - me o poder de estar calado , quieto ,
maniatado , , iluminado se os  gestos e as palavras
 que sonhei , nunca os usei nem usarei se nada o
que levo a efeito  vale , que   não me mova !
que eu não fale !

Ah , tambèm sei que trabalhando sò por mm ,
era por nòs .

E assim neste vão assalto a nem sei que felicidade ,
lutava um homem pela humanidade ma o meu sonho
 megalómano è maior do que a própria imensa dor de
compreender como è egoísta a minha conquista ...

Senhor ! que nunca mais meus versos ávidos  e impuros
me rasguem     ! e meus lábios  cerrarão como dois muros ,
e o meu silêncio , como  incenso , atingir  te -à , e sobre
 mim de novo descerá ...

sim descerá da tua mão compadecida , meu Deus em que
não creio ! e porá fim a minha vida .

E uma terra    sem flor e uma pedra sem nome saciarão , a minha fome .


José Régio , in As Encruzilhadas de Deus

                                                                                                                                                                                                                                                           

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