sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

encostar - se a uma árvore


 uma árvore  para apoiar as  costas

ficar  ali  sem pensamentos sem

posses o mundo a   frente  atrás

a volta igual ao ramo à folha


o que importa  a telha partida

o quarto estreito


ficar enquanto è dado sem calendário

quem decidiu  esta inquietação


partir voltar  deter   quanto basta

encostar - se a uma árvore

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

tu ès a flor da minha vida


 

tu ès a flor da minha vida

que vou regando

as minhas lágrimas

nesta terra perdido em

letras


desta página


como ès linda e viçosa

não te quero deixar murchar

silêncio


 

verde  paraíso


estranho que fui

quando vizinho

de distantes luzes

entesourava palavras

puras para criar novos

silêncios


para reconhecer na sede

o meu emblema


para significar o único

sonho

para não suster nunca

de novo no amor


fui todo oferendo

um puro  errar de lobo

no bosque na noite

dos corpos

poema


 eleges o lugar  da ferida

onde falamos o nosso

silêncio

fazes da minha vida

esta cerimonia demasiado

pura


recebe este meu rosto

mudo  mendigo


recebe este amor que te

peço


recebe o que há em mim

que ès tu

reconhecimento


 fazes o silêncio

do  lilás

que esvoaça na minha

tragédia do vento no

coração


fizeste da minha  vida

uma história para crianças

onde naufrágios e mortes 

são pretexto de cerimónias

 adoráveis

presença


 

a tua voz neste não

poderem sair das coisas


do meu olhar elas

desapossam - me


fazem de mim um barco

sobre um rio de pedras


se não è a tua voz

tu destas - me os olhos

e por favor

que me fales sempre

amantes


 uma  flor


não  longe da noite

meu corpo mudo

se abre

à delicada urgência

do orvalho


o esquecimento no outro 

lado da noite


o amor è possível


leva - me entre doces

substâncias


que morrem cada dia

na tua  memòria

sentido da sua ausência


 se me atrevo a olhar

e a dizer 


è pela sua sombra

unida tão suave


ao meu nome là longe

na chuva


na minha memória

pelo seu rosto


que ardendo no meu poema

dispersa  formosamente um 

perfume

de amado rosto desaparecido

chá da vida


 chá  da vida  chá de rosas

das tuas pétalas arranco

uma a uma das mais belas


deixo para trás as venenosas

adiciono - lhe um pouco de dor

um pouco do meu sentimento


diluindo - lhe  também um pouco

de dor


enquanto bebo recordo - me de cada

momento passado entre nòs e este

momento è para ti flor


 

a pequena viajante


 a pequena viajante

morria

explicando a sua morte


sábios animais nostálgico

visitam seu corpo quente


para là de qualquer zona proibida

há um espelho para as nossas tristezas

transparência 

deslizo


 

deslizo no asfalto

deixa -  me nesta

paz


ah ... que ninguém me roube

este momento


bem sei que há gritos 

e sofrimento


em toda a parte


ah ... por um momento sò

noite e dia


 

aquele por quem chamas noite e dia

com o teu sangue com a tua voz de vento

prisioneiro em seu próprio sofrimento

nesse poço de carne e agonia


aquele que tacteando busca o dia

do teu rosto a chegar


flor no tempo e transforma o seu

tormento num cântico de amor e alegria

imagem


 


aqui 

 somente  a sede ardente e a fonte

para mata - la


aqui

céus horizonte e o voo

a fuga a sùbida  viagem


não conheço nem sei de outro

país


o meu amor è feliz ou infeliz


porque me escondes a minha

própria imagem 



Vida


 

um viver que è morrer a cada hora

angùstia  que è prazer surda harmonia


todo o bem todo o mal dor alegria

abutre e pomba

luz que me devora


prisão  de onde não quero

ir - me embora


jardim de vidro negro

claro dia


cavalo de fogo

ácido

agonia os infernos

os  céus


barco  na aurora


estrada sem memória


 estrada  sem memória no areal

frase uma vez sò dita


ou bem ou mal em mim a porta

em ti a chave


toma ... e abre ou fecha a porta

ardente de vez ...


quero  saber se esta semente

será semente ainda será vento

flor ou ave

esquecimento


 

esquecerás meu amor a minha face

o meu cavalo de fogo

                                 o meu navio


e arderás no lume que prespasse na angústia

sepultada em cada em cada rio


ver- te - ei  louca  e pura dizer dà - se um cavalo

de fogo e um navio a quem me recordar a sua

face

mas  não mais me acharás no longo  do rio 

cantiga


 

sò em ti a beleza  encontra a forma

cantas e logo a noite se transforma

no dia que faltava a criação


não te perguntei se alguma vez

esperaste  pelas minhas palavras

pelo meu navio por este vento

ardente


reclino o meu rosto na madrugada

que nasce incendiada em teus olhos


quando me fitas


 e na dor e  no silêncio as malhas

 teço 


com que me sepulto


porquê  de tanto muro de tão espantosas

muralhas a separar - nos


 na vida na morte onde eu estiver

 tu estarás comigo e o resto

não será mas verás


que um bicho  espera a primavera

em seu casulo

 


terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

o sonho


 

sonhar- te os abismos

 os morcegos volvem - se

em arcanjos e vêem cegos

quando os fitas pousar na

tua mão


barco e melodia


 

seara  e nuvem barco e melodia

lírio  solar estrada e cotovia

no coração das feras e das aves

de  poetas


trazes a aurora em tuas mãos suaves

abrindo a noite


barco e melodia

lírio solar estrada e cotovia

jamais sonhada pelas pròpias aves


a morte e a vida a porta e a chave

tudo em ti se confunde e anuncia

sob o sol da manhã




sob o sol  da manhã deslizo

no asfalto


là em baixo o rio è uma imensa

cobra de água


cheios de sonho e  ansiedade

esquecidos e serenos


            os pescadores de noites sem fim

 estão  atentos esperam  pacientemente que surjam 

 os peixes impossíveis que surjam do lodo 


deixai - me na paz desta manhã tão clara com

os trigos a rebentar da terra  e aquela  égua dando

de mamar ao seu potro inquieto e sedento de uma

vida verdadeiramente plena sem análise nem tortura


ela mesmo  incensa-mente húmida e triunfante 

por isso estes galhos torcidos onde de novo

rebentam as folhas e flores


raspa - me de leve os cabelos e suavemente

poderosamente dizem aos homens atònitos

que deslizam no asfalto bom - dia


um sardão de ventre azul dorme ao sol

na bruma  da estrada

                            bom dia !

 

último reduto


 


aqueles  que  para te vencerem pulverizaram

                                                          a tua  carne o teu último reduto


grita - lhes

                que no centro  do  último  átomo

                                                                            resiste esperas a primavera

AMOR


                                                                                                                     a  Ana   Pereira


ao teu lado   não   há

muros silêncios

      morte


por cada  espinho  de aço

gravado em nossa carne


há um rio de sangue e primavera


por cada  bofetada

                                   um sorriso de criança


por cada insulto por cada  punhalada

                                                             uma seara uma  estrela


Ao teu lado



 

Somente em teu rosto

                                                                                                                                     a Ana  Pereira


se  è  somente  em   teu  rosto

que  verei  nascer  um  dia

a  madrugada


por  que  será  que  nunca  te  direi

as  palavras  que guardo  para  ti  


contigo

sou capaz de  falar do tempo

de qualquer coisa inútil


das aves de tudo menos

de  amor
 

O AMOR


                                                                                                                               a  Ana    Pereira




o amor quer reencontrar o seu lugar

tão perto dos cravos


e a nossa volta as montanhas gravitam

as águas  reencontram o seu esplendor

de antanho


e a felicidade  volta a traçar dos  nossos

olhos num arco de saudades de sòis em

fusão

Viaja - me relâmpago


                                                                                                                                a  Ana  Pereira


pura ou impura pouco importa isso

simplesmente  humana


súbita  árvore  de  seios

desejos de angùstia 

coberta de  insultos raiva


a cada  instante  morres renasces

voo


com o teu olhar curvado

punhal  a cerado  cravado

no vento da nossa  loucura


com as tuas pequenas mãos se dosas

esmagando insectos flores  venenosas


com os teus lábios ardentes de febre

colados aos lábios frios da morte


caminha relâmpago  na treva


ignorante sabia de que  te busco

louco e cego


espermatozóide viajando  rápido

uma vez mais os secretos caminhos


uma vez mais a cada instante

morres renasces no sangue na

 voz no desespero com que te

chamo e me respondes


ignorante sabia visível secreta

pura impura


abres - me  dàs  - me  os cèus e virgem

 me dizes viaja - me viaja - me relâmpago

 



as vozes da cidade


                                                                                                                                               a Ana  Pereira



carregas  em teus ombros um navio de relâmpagos

em teu coração a pedra e a voz das cidades insubmissas


levavas  em teu rastro   uma aurora

de espigas


em teus lábios as palavras

que não temem o fogo o frio

ou a morte


a terra semeava

e por ama - la tanto transformou - se

na coisa amada por nòs


ès agora


ò semeadora a própria  semente

oculta e amorosa submersa

 no amor


com ternura chegavas a cada noite

e construías uma vez mais a esperança

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

Tudo em ti è poesia


 em ti a poesia e a fecundidade

o tempo tu o medes  o alongas

e o amesquinhas

o tempo sopra dos teus lábios


o tempo  escoa - se por entre os

teus cabelos


em ti estão as leivas as fontes

e as sementes os mais secretos 

caminhos

em ti as searas ainda futuras

mas tão magníficas e reais

que da tua epiderme já brota

o calor suave e o olor das

espigas ou do teu sexo

um sò cristal


 um  sò cristal de alegria  nele o  brilho

múltiplo da razão arrebata o rodìgio  

do silêncio nas palavras  que pulsam

latejantes como diamantes em  delírio

de luz cor e fogo numa combustão lenta

de  ternura


o universo vago da ausência è rito de exorcismo 

inacabado por dentro  mesmo do sonho verde


como se o destino se afirmasse  num fulgurante rumo

de  lúcida  paz incrível numa  fulgurante nudez  da matéria 

projectada no rosto indelineável  da vitória improviso 

num sonho o mar pousa  a cabeça   no regaço  do meu  sorriso

meu amor e embala - me numa canção de amor

 

certezas


 sinto - me sem ter  a certeza e fico

noite e dia  a tua espera


bebo esse corpo  fluído de quimera

alento que mantém a chama acesa 


invades o Éden  desprezado

que sò era lembrança cativa  de outra

esfera sem penumbra subitez  nem

tibieza

O Sol


 

o sol  não se põe  os homens è que afogam

em vão


cada coisa uma sò voz

a morte vem para sempre

a vida sò vem uma vez


mudem  os ventos

às searas do Van Gogh

e verão


sò a cor arde nos campos

amarelos intactos

vermelhos infinitos


vertente ou vontade

virtude ou variante


violência ou vaidade

a arte nunca se repete


na infância eu achava

que óleo s / tela

era òleo sem tela

preto no branco


 

as vezes o peixe salta  do seu aquário transparente

e tanta coisa simples como este amor que eu sinto

por ti dentro de mim


neste mundo universal

o silêncio  da tua voz


escorre - me  uma lágrima silenciosa


a esperança futura em nòs


jamais  conceberei  uma vida

sem amor sem  a liberdade

de amar de viver e ser feliz

A hora mansa sobre a cidade


                                                                                                                                         a  Ana   Pereira


não seja  dia nem noite a hora em que vieres

somente aja silêncio  na cidade morta

e suave me toques  na fronte para que sò

eu saiba que ès chegada


não aja  galos a anunciar - te

somente uma estrela no fundo 

de  mim e um vento macio

nas ruas e não aja cães a ladrar

O SONHO


                                                                                                                            a  Ana  Pereira


um sonho  que se vai tornando realidade como uma flor que se desabrocha
dentro  do meu coração fogo que arde sem se ver  que dói sem doer

onde desperta esta paixão louca por ti sem que a poça conter onde o
meu olhar iluminou o fundo  do que era   um abismo em mim 

as flores que eram flores e são flores para nòs que as amamos


                                                                                                                                    a  Ana Pereira

as flores já não são flores são cactos

que se pisam num deserto onde já não

 existe passado


as palavras desaparecem

as ideias transformaram - se em areia

nada importa


tudo è nada numa desorientação

uma dor que murcha


uma flor um pensamento perdido

na cólera da vida

a espera que tudo mude numa mentira

que è uma heresia da alma estar vazia


o espírito luta num sonho que voo

demais

saudade


                                                                                                                           a   Ana Pereira


ai ... que saudades dos  tempos da verdade dos tempos da infância

dos pensamentos que voam


a sonhar que eram transparentes a sonhar que o rio  era transparente

que corria sem parar 


o ritmo da vida è alucinante

a vida  è uma brisa que corre depressa

o dia em que as estrelas se esvai-aram


                                                                                                                                  a  Ana Pereira



um dia tudo mudou

                             um dia o sonho  desiludiu

quando a sua sombra fugiu

                                 num sentimento de abandono

numa viagem sem retorno


um dia tudo mudou o tempo mudou a vida

se  transformou

a confiança perdeu - se  naquela  que foi

criança

que recorda o passado com uma lágrima

triste que escorre pelo seu rosto delicado



      

palma com palma


                                                                                                                             a  Ana Pereira


comecemos então assim 


            a mão  palma  com palma

diz não digas a  palavra


 as palavras terão ainda algum

sentido ?


vão de vaga em vaga de mão em mão

vão apagadas


seremos nòs tu e eu

as  palavras

onde nos leva neste crepúsculo


assim palma com palma 

domingo, 7 de fevereiro de 2021

Ergue Lenhador


 ergue lenhador o teu  machado

assenta o golpe necessário

dà começo ao teu trabalho

golpe a golpe


ergue - te a consciência

do tempo que crias

e que independentemente de ti


ò lenhador te  arrasta

implacável e sereno

assim querida te golpearei


te beijarei onde não ès mais que

o teu próprio  princípio


pare além da  carne que te veste

harmoniosamente



 em ti estão  as leivas as fontes e as sementes

os mais secretos caminhos


em ti as searas  ainda futuras mas tão

magníficas e reais que da sua epiderme

jà brota o calor suave e  o olor  das espigas

ou do teu sexo 

O BEIJO


 

Sò depois  de te beijar

uma criança te  pede

um beijo

para distinguir a inocência

do desejo

O Tempo


 

em ti a suavidade a força a medida  exacta

a palavra uma vez sò  dita


em ti a arquitectura perfeita

a harmonia das cores e  dos volumes

em ti a poesia e a fraternidade


o tempo tu o medes o alongas e amesquinhas

o tempo sopra dos teus lábios


o tempo escoa - se por entre os teus cabelos

Tempo


 Onde  existir o tempo se tu para mim

não  existias


sò tu  lhe dàs  realidade sò tu  ès

o  fluir tudo está suspenso em ti

a esperança a vida o desespero

a morte


tu ès o dia o equinócio a hora

o dia

tu ès o amanhã a primavera

a flor os frutos o umbigo

os seios a noite


as estrelas na profunda noite

somente em ti a vida a morte

Presença


 o amor canta na manhã futura e espanta a noite

escura abre - se floresce como um clarim

aqui onde tudo acaba e se principia

aqui onde o sol nunca se esconde

noite que sempre foi dia para  além de mim

está a minha  presença para além dos continentes

Sem noite e sem dia


 irremediavelmente o tempo  começou agora

que chegaste e è maravilhoso como tudo

se  perdeu e se ganhou

um vazio antes de ti um vazio infinito

depois de ti  se te fores


mas tu jamais te  apartarás de mim

o mesmo è dizer da tua própria essência


falo em termos  absolutos

e tu bem o sabes meu amor

Descoberta


 

nada há em mim que em ti não esteja

somente a descoberta

uma a uma a terás de fazê - la


um  galo canta espanta a noite

escura

abre- se  floresce como um

clarim

ou será que amanhece ? 

um galo canta na manhã futura

o seu canto

espanta a noite escura

aqui onde tudo acaba e principia

sol  que nunca se esconde

noite que sempre foi dia

Deixai que eu passe


 eu sou o vento necessário


     escutai a canção  admirável

dos meus lábios de poeta e deixai

que eu  passe


quero  beijar suavemente

  os teus  seios e o teu sexo

 magnifico que me concebes

deixai - me passar monotonamente

e semeie  em  paz

quando não passar  passarei

de  qualquer  forma  serei

o furacão que subverte tudo

pois a sementeira terá de ser

feita


Sementes


 lanço conscientemente as sementes

eu sou o vento semeador

as minhas sementes são  mulheres

 e homens


e o meu gesto è o mais belo

alguma vez visto no mundo as mulheres

e os homens 

nonas e novos na terra negra e vermelha

brotam erguendo os braços

o sol os veste de fraternidade


Vento


 

eu sou o vento que haveria de vir

vento da terra onde os seres

nascem irmãos

e sei que nada nos pode

separar

beijo - te  na face


e a toda a humanidade

sopro e trago comigo as chuvas

e os poemas

canto levo as sementes

redentoras

o tempo

escoa - se por entre os teus cabelos em ti as leivas as fontes as fontes e as sementes os mais secretos caminhos em ti as searas ainda futur...