segunda-feira, 20 de março de 2017

O NOSSO AMOR

AMOR

Entre os seres humanos
mesmo se intimamente
unidos permanece sempre
um abismo que apenas o
amor pode superar e
mesmo assim uma

 passagem de emergência .


AMOR

AMOR

Quando se gosta de alguém
gosta - se apesar das suas
falhas

Quando se ama alguém
ama - se com as suas falhas

Wer  Lieben Kann

Força

alguns de nòs pesam
que aguentar as situações
tornam - nos fortes

Era a este preço
que se descobriam
os mistérios da arte

ARTE

Para  um tal resultado
podia - se arriscar a
vida era a este preço
que se descobriam
o mistérios da arte

0 Último Verão de Klingor

FELICIDADE

Sò aquele que sabe amar
è feliz

MEDO

Sò se tem medo quando
não se está de acordo
com sigo mesmo




domingo, 19 de março de 2017

Comprensão

Ninguém  pode
nem compreender
nos outros
o que ele próprio
não tiver vivido .






Sonho

FELICIDADE


Sò há felicidade
se  não exigirmos
nada do amanhã
e aceitarmos do hoje ,
com gratidão

o que  nos trouxer
a hora mágica
chega sempre







Areia

Sou esta areia
que esvaia
entre o cascalho
e a duna
a chuva de verão
chove - me

 na vida me foge
 persegue - me
e vai acabar

no dia do começo
caro  instante
vejo - te nèvoa

que se levanta
quando não tiver
de pisar

estas longas soleiras
movediças e viver
o espaço de uma porta
que se abre e se fecha .


sexta-feira, 17 de março de 2017

AREIA

Sou esta areia
que se esvaia
entre o  cascalho
e a duna
a chuva de verão
chove - me na vida
sobre mim  a vida
me foge persegue- me
e vai acabar no dia
do começo


Caro instante vejo - te
névoa que se levante
quando não tiver  de pisar
estas longas soleiras movediças
e viver o espaço de uma porta
que se abre e que se fecha


quinta-feira, 16 de março de 2017

Mulher

MULHER

Quando uma mulher se despe
numa clareira rodeada de arbustos
e sobre uma toalha se estende ao sol
è ambíguo porque não quer ser vista
e ao mesmo tempo a sua pele estremece
sob um olhar ausente ou alguém escondido
entre a folhagem  tambèm a palavra se expõe
e oculta no seu fulgor de lâmpada alimentada

pelo fogo obscuro que aspira
 a nudez solar ela inclina - se
sobre a água para ver a sua
imagem com o olhar não dela
mas de um outro que a move
para ser presença pura no
olhar de ninguém

e poderá ser um dia o de algum
leitor que se deslumbra com a
sua abstracta nudez sem esta
duplicidade e sem este puro
recato através do silêncio ela
não possuirá o frémito ideal
da exposição e seria opaca
ou demasiado transparente
 sem os meandros cintilantes
que a tornam fugidia como
um fio de mercúrio e a sua
nudez teria a consciência
 inerte de uma pedra sem
fogo e sem sal o focinho
do desejo por isso o poema
è uma mulher que se enrola
na sua nudez atè ser tão
redonda como redondo
è o ser com a sua lìngua
bìfida entre os lábios do
seu sexo .



Palavras

PALAVRAS

Hà palavras que esperam
que o branco as desnude
para se tornarem transparentes
è uma oferenda do olvìdio
a folha flexível è uma luva
vegetal para que não oscila

Como o abdómen de uma adolescente
a página suscita a fértil  fragilidade
de uma caligrafia que se paga sobre
os sulcos da neve aì aparece a graciosa
metade em que cintila o polèn da límpida
abolição

Escrevo para ser contemporâneo
das nuvens para pertencer a pobreza
e nua pàtria inerte

coberto pelo violento alfabeto dos clàxons
escrevo para que se levantem os pássaros
de areia e ao pulverizarem - se  a poeira
do seu desaparecimento .



Eu Te Amo Meu Amor

Minha amada , sinto  - te
amo - te na doçura da tua
sedução no aconchego
e calor do nosso ninho

no teu beijo a ternura
no entrelaço do doce
pecado ao sabor

nessa mistura de sede
fome prazer louca
sintonia rendidos
ao querer saciamos
nossos paladares

desejo o meu corpo ,
no teu corpo

sacio as minhas fantasias
nossas fantasias
sentimos o pulsar na cama
em qualquer lugar

meu amor , afunda - me
em ti , sinto - te devagarinho
suspiro um arpejo ès sò desejo
somos sò desejo assim nos
 possuímos

momento supremo vamos prendendo
em carinhos devoramo - nos com calor
no amor porque sou teu e tu minha

entregamo - nos a deriva em nossos
corpos fazemos plágio somos fonte
de desejos porto seguro adágio um
do outro .



quarta-feira, 15 de março de 2017

Há em tudo um apelo mudo
tudo nos pede um favor e
me comove e as mais
 pequenas coisas são
como as crianças

e a sua presença
guia - me e torna - me
atento e sò ouço esse

encanto e lhe acudo
a mais pequena coisa
encontra - me , fere - me
e torna - me todo .

Redondinha

apenas a amizade
se lembra do amor
ouve esta canção
por ser tão antiga
apenas a amizade
se lembra do amor
paixão partiu leve
deixou o voo livre
e a solidão ficou
para se povoar
a luz na sombra
serei sempre a cor
serà sempre o som
junto a tal flor
rapa a paz rapaz
não chores rapariga
a humanidade toda
é a tua fiel amiga
apenas a amizade
se lembra do amor
decora esta letra
e liberta o poema .


ROCHEDO

Sente no rosto o vazio
como um corpo submerso
pela água

colhe a sombra
que te refresca

sente viva a pedra

da falésia

no peito cruza
as tuas mãos

e louva nesse altar
inesperado

a grandeza que te leva
devorado




Tempo fàcil

Grandeza

Não digo o não
dito apenas me
acerco da grandeza
dos outros e para
mim as tomo e a
minha paga

è dizer tambèm
caminho numa

pàtria  ocupada mas algo
me recorda sò em mim
exilar - se


TEMPO FÁCIL

Ter a facilidade
De um ensino superior
De vida
Em dificuldade
Para que no segredo
De um sussurro
Paire a quietude
De outro olhar



Àgua

Água

Mergulhas o rosto na água
funda escutas depois o seu
centro com paciência ouvirás
o desenho do silêncio e
 memórias indefinidas


assomarás a teu ser .

Assim comunicarás com todas
as coisas como se houvesse nelas
um canto seco e quando for silêncio
esse teu rosto já terás aprendido a
sua linguagem .


Mar

Imenso e plano
como um campo
raso em tuas águas
se condena sem julgamento
e sò te ouves a ti próprio .

O teu orgulho tem o poder
de um deus que perdeu o
encanto que jà não redime .



AMOR

Eu   não sei
senão
amar - te

nasci para
te querer

Ò quem me

dera
beijar - te e beijar - te
atè morrer


Cantiga de amigo

Seja passado ou futuro
Seja fuga ou remorso
de amigo para amiga

se nunca estou contigo
jà não sei estar comigo

que amigo sem amiga
nem à vida sò todo


Seja distância cansaço
ora eterno ou efémero
ou coração sem abrigo

o inimigo de um amigo
è o silêncio da amiga
que amigo sobre amiga
nem na morte sabe tudo



Olhos

Eram olhos fèrteis
por isso , sem tempo

ver - te è apenas
cumprir
um dos sentidos
tudo nos resta
excepto querer - nos .

Convém o texto o tempo
è longo breves as palavras .

No silêncio as palavras
que um corpo , hoje
fala noutro corpo .

Em mim vontade
de ser corpo se
corpo não fosse
vontade jà .


O mais belo poema
não o escrevi nunca
esculpi - o
no tremor vagaroso
do teu corpo .




O AMOR

Não sei como dizer - te
que a minha voz procura - te
e a atenção começa a florir ,
quando sucede a noite
esplêndida e casta

Não sei o que dizer
especialmente quando

os teus pulsos enchem - se
de um brilho precioso e tu
estremeces com um
 pensamento  chegado .

Quando iniciado a campo .
o centeio imaturo ondula
tocado pelo pressentir
de um tempo distante ,

e na terra crescida os homens
entoam a vindima ,

- eu não sei como dizer - te
que cem ideias dentro de mim ,
procuram - te

Quando as folhas da melancolia
arrefecem com astros ao lado
do espaço o coração è uma
semente inventada no seu acético
escuro e no seu turbilhão de um
dia  , tu arrebatas os caminhos
da minha solidão como se toda
a minha casa ardesse pousada
na noite

- e então não sei o que dizer
junto a taça de pedra do teu
tão  jovem  silêncio quando
as crianças acordam nas
luas espantadas que às
vezes caem no meio do
 tempo ,

- não sei como dizer - te
que a pureza dentro de mim ,
procura - te

Durante a primavera inteira
aprendo os trevos , a água
 sobrenatural , o leve e
abstracto correr do espaço

- e penso que irei dizer algo
cheio de razão , mas  quando
a sombra vai a cair da curva
sufraga dos meus lábios
sinto que me falta um
girassol , uma pedra ,
uma ave - qualquer
coisa  extraordinária

Porque não sei como
dizer - te sem milagres
por dentro de mim
è o sol , o fruto , a
criança , a àgua ,
o deus , o leite ,
a mãe , o amor ,
que te procuram


 
                                                                        

terça-feira, 14 de março de 2017

RECADO

Fomos namorados há vinte anos
e toda a manhã perdidos à procura
das palavras de ontem à noite
julgamos - las pousadas à tarde
em cima da mesa onde era
costume trocarmos de livros
ao sol ou frutos com frio ,
corremos a casa o bosque

e nada , sò o silêncio estranho
mesmo sem vento ou fùria
a forçar as frestas e as janelas ,
a bater com as portas ,  a memória
dos sonhos a diluir - se no adormecer
e acordar tumultuosos que nos percorrem
um sono longo e difícil , uma luz sem razão ,
uma sombra de ninguém , um elo seco sem
sentido e caminho , um brado animal de estar
sempre tudo fora de sítio , embora a mão ,
localizando o caos  perto , a alegria solitária
de irmos longe fazer a cama um do outro ,
levantar a almofada e descobrir tudo guardado ,
estimado e palpável ali debaixo , como um segredo
a chamar - nos de propósito , como o primeiro som
de uma criança  a sair do ùtero , a última sílaba a
escapar sábia de uma boca ávida , nua para a partida
ou chegada , um abraço de abrir o corpo e fechar o
 reencontro



Dia

REDONDILHA

Apenas a amizade
Se lembra do amor
Ouve esta cantiga
È moderna e sò
Por ser tão antiga
Apenas a amizade
Se lembra do amor
Paixão partiu leve

E a solidão ficou
para se povoar
a luz na sombra
Serei sempre a cor
Serás sempre o som
Junto a tal flor
Rapa a paz rapaz
Não chores rapariga
A humanidade toda
è tua fiel amiga
apenas a amizade
se lembra do amor
decora esta letra
e liberta o poema


A OUTRA - AMAMOS SEMPRE NO QUE TEMOS

AGUARELA

Sã mulher
Linda inocente
Criança leve
Não se oferece
Uma flor vã
A flor que và
Dar - se -  lhe mão
À terra seca
Para semente
Regar bravias


Raízes ùnicas
A uma mulher





Iluminura

ILUMINURA

Cinco sentidos bailam à cabra - cega
um sexto de olhos vendados è o que
melhor vê  a noite :
a sensibilidade , ainda um sètimo
- a arte - delimita o espaço invisível
com um círculo  mágico em redor


começa a crescer um âmago
a partir do centro e a poesia
não mete medo , não come
sonhos , não cospe monstros

è uma vertigem muito alta
de água e luz

pode ir atè sempre , pode
aninhar - se na posição de feto
dentro dos nossos corações ,
pode transformar - se em pò
na manhã seguinte  para voltar
a construir um jogo sempre
 diferente :
vida amor e morte - a pirâmide



Praia

Praia


primeiro o cristalino
das coisas dos olhos
dos gritos  abafados
depois o tempo de
recordar  longe ao



longe na linha nua e perfeita
onde poisa a liberdade
o melhor do mundo
que ali parece estar
mas não deixa ver
o mar .


Não digo

não digo
o não dito
apenas acerco
- me da grandeza
dos outros e para mim
a tomo

e a  minha  paga
è dizer :

tambèm caminho
numa pàtria ocupa
mas algo recorda - me
sò em mim exilar - se


Olho

olho para as coisas
em segredo mas
vejo por dentro
delas e toco - as
em silêncio

faço curta a distância
das coisas entre mim

e  elas nego os espaços
e prendo - as como a
águia faz do alto aos mais
pequenos seres

eu e as coisas enfrentamos
o mesmo instante somos
uma mesma presença

fundida e atento passarei
 por elas como o seu criador

ali onde habita o que ninguém
vê encontro - me e olho de frente
esse invensìvel .




Rosto

nòs de rosto demorado
como de velhos

nòs com o peso
de um deus amordaçado
sobre os ombros

nòs que olhamos as
coisas e as choramos
e que somos semelhantes
a uma promessa perdida


não dobraremos perante
a mais pequena pressa



ir indo

agente aprende
o coração a lareira
que se fica a ir
e reacende atè
que um dia
alguém se lembre



( in , Màgoas das Pedras , Deriva 2008 )

Joaquim Castro Caldas



segunda-feira, 13 de março de 2017

Pelo dia Nacional da Poesia

alguns gostam
de poesia

alguns -
nem mesmo
a maioria de todos
mas a minoria
sem contar a escola
onde è obrigatório
e os poetas

seriam talvez uns dois
em mil
gostam mas tambèm
se gostam de canja de
galinha

gosta - se de galanteio
e da cor azul
gosta - se de um xale
velho gosta - se de fazer
e que se tem vontade
gosta - se de afagar
um cão

mas o que è isso
poesia
muitas respostas vagas
jà foram dadas a essa pergunta

pois eu não sei e não sei
e agarro - me a isso como
a uma tábua de salvação .



As Vezes no Reverso

às vezes no reverso
penso em voltar
para a england
dos deuses

mas atè as inglesas
sangram todos os
meses

e mandam her royal

highness à puta que a pariu
digo : aguenta com altivez
segura o abacaxi com as
duas mãos doura tua vez
aprenderei a ser feliz

como as pombas da praça
matriz que voam alto sagazes
e nos alvejam com suas fezes
às vezes no reverso


No Èden

peça a ela que se desnude
começa pêlos cílios
segue ao arame dos utensílios
diários insónia alinhando - se
de tiros a infância seus disfarces

è preciso que se arranque toda
a face deixar que os olhos descansem
lado a lado com os sapatos na camurça
oscilante de um quarto isso se quer
desconfia tocar  o que se fia


um par de presas topázio
entre o vão das costelas
abra o fecho ela desfecha
onde vaza a luz e suas arestas




Ària Amarìssima de um Instante

sobre  mim o sudário das coisas
brandura extensa camada transparência
sobre as gentes vê sò :

eu não olho - te  com o teu olho
que sabe

quase tudo è território
quase tudo em ti è transitório

meus olhos a liquidez descobre
uma tarde esvaiada  tarde - madrugada
tempo alongado onde fizeste em viuvez

não perdeste a mulher ou o homem
com suas fezes às vezes o reverso




Morada Nômades

carunchos e cupidinoso  roem
vorazes a choupana de ripas
pendem o esteio ramo de trigo
feito amuleto para celeiros cheios
 tachos esfarelam crostas de grãos
muìdos

e redes balançam seus esgarços
perto do chão onde uma nódoa
preta mostra o antigo fogo


tudo abandono e no entanto
là fora o poema semeando
para os que agora cruzam






trouxas vazias um por um
ou onze mil guapurus







Sobe uma pequena estrela

desculpe - me o atraso
por chama - lo necessidade
se ainda me engano

que a felicidade não se
ofenda por toma - la
minha
que os mortos me perdoem
por luzirem na memória

desculpe - me o tempo
pelo tempo tanto de
mundo ignorado por
segundo

desculpe - me o amor antigo
por sentir como novo o primeiro
perdoa - me as guerras distantes
por trazer flores para casa

perdoe - me os que clamam
das profundezas pelo disco  
de de minuetos

desculpe - me a gente nas
estações pelo sono das
cinco da manhã

sinto muita esperança açulada
se as vezes me rio
sinto muito deserto se não
lhes levo uma colher de
água
e tu falcão há anos na mesma
gaiola fitando sem movimento
sempre o mesmo ponto ponto
absolve - me mesmo se tu
fores um pássaro empalhado

desculpe - me as grandes respostas
pelas pequenas verdades não me dê
excessiva  atenção
serenidade mostra - me magnanimidade

ature segredo de ser se eu puxo os fios
das suas vestes

não me acuses alma por tê - la raramente
desculpe - me tudo por não estar em toda
parte
desculpe - me todos por não saber ser
cada um e uma

sei que enquanto  viver nada me justifica
jà que barro o caminho para mim mesmo
não me julgues mau fala por tornar emprestado
palavras patéticas e depois esforçar - me para
parecer leves

um pouco de tudo o que sou ... enquanto palavra .



                                                     

Além do esquecimento

alguma vez
de uma borda
da lua verás
cair os beijos

que brilham em mim
as sombras
a brilhar o segredo
que geme a vaguear


virão as folhas impàvidas
que algum dia foram
que algum dia foram

o que os meus olhos
virão as murchas
fragrâncias que inatas
descenderam do alado
ser

virão as rubras alegrias
no sol
que rodeiam as harmonias
aqui distante no fundo
dançante do cachimbo
do meu amor .


domingo, 12 de março de 2017

Sò um Amor

o meu amor se amplia
è um paraquedas  perfeito
è um clique que se exala
e o seu peito se faz imenso

o meu amor não ruge
não clama
não roga
não ri


a sua pele
um mapa mundial
as minhas palavras
perfuram o último
sinal do teu nome

os meus beijos
são enguias
que ufanam
em deixar caricias
são um jorro reminiscente
de música sobre fonte de Roma
ninguém pode fugir ainda do seu
território animìco

não hà rotas nem dobras
mas insectos
tudo è tão limpo
que  as minhas lágrimas
sublevam - se

 a minha criação è um
pranto
mimice junto a tua ternura

neste momento o tinteiro
alcança o voo e alinha - se
atè os limites inacabàveis
de mosquitos a fazerem
amor

soa o fatídico  som
jà não voo
è o meu amor que se
amplia .


Lua

Lua

lua traz me o teu
sorriso

como vens do paraíso
admiro  a tua beleza
vejo a destreza que
tens


observo - te num
vai vem
por pertenceres
ao céu

um canto
um desenho na tela
em que te admiro
por inteiro

ligeiramente amo - te
que inveja sinto
tocas onde eu não
 posso tocar

transformas o nosso
sonho
ò lua que espelhas
deste mundo a porta
do além a pulsação
tranquila do mar

ao meio dia o universo
estremece a paisagem
solitária







sexta-feira, 10 de março de 2017

Distância

distância

o meu ser è repleto
de barcos brancos

sentindo a rebentar
todo sob as reminiscências
do teu olhar

quero destruir a comichão

das tuas pestanas
quero evitar a inquietude
dos teus lábios

porque a tua visão
fantasmagórica rodeia
os càlices desta hora ?



ESTE O POEMA

este foi o poema mais
bonito que eu  li em 2011


meus olhos
chegam arder
ante tamanha
beleza



trecho de amor
à primeira vista

porque afinal
cada começo
è sò continuação

e o livro dos eventos
está sempre aberto
no meio


AS VEZES

as vezes nos reversos
penso em voltar para
england dos deuses
mas atè os ingleses
sagram todos os meses
e mandam her royal
 highness à p.p

digo ;
aguenta com altivez
segura o abacaxi com
duas mãos doura tua tez

sob o sol trópicos e talvez
aprendemos a ser feliz
como as pombas da praça
matriz que voam alto
sagazes e nos alvejam
com suas fezes às vezes
no reverso

( de Rilke Shake )

Angèlica Freitas , nascida em 1973
em abril , pelotas - RS , tem poemas
publicados em diversas antolo
( Cosac  Naify / Z letras )

Anda a caminho de publicar um novo livro



PENSAMENTOS

Os pensamentos que me vestiam
nas ruas movimentadas
rostos
rostos
biliões
de rostos
na face
da terra
dizem
que cada

um è diferente
dos que jà se foram
e dos que virão um
dia

mas a natureza
- quem entende ?

- cansada de trabalho
que nunca acaba

talvez repita
suas ideias
antigas e ponha
- nos rostos
jà usados outrora
pode ser Arquimides
de jeans

que passa ao lado
a Czarina Catarina
com roupas de brechò

um dos faraós de pasta
e óculos

a viúva de um sapateiro

descalço vinda de Varsóvia
pequenina

Alta-mira  levando as netas
para o zoológico

um vândalo cabeludo
a caminho de um museu
para se deliciar com os
 mestres do passado

os que tombaram
há duzentos séculos
há cinco séculos
há meio séculos

alguém levado
em carruagem dourada

alguém levado
em vagão  de  extermínio

Montetuma , confúcio , Nabucodonosar
suas babàs
suas lavadeiras
e Semìramis que sò fala iglês

biliões de rostos na face da terra
meu
seu
de quem
tu nunca saberás
talvez a natureza
tenha que ludibrar
para dar conta dos
prazos e da demanda
e pesque atè o que estava
submerso no espelho
da deslembrança









quinta-feira, 9 de março de 2017

LONGE

Longe

sim, meu amor
estás longe
como o mosquito

sim !
esse que persegue
a uma mosquita
junto a um farol

amarelo sujo
que vigia

sob o céu negro
limpo
esta noite
angustiosa
cheia de dualismo


VINHO

o vinho se aclama
mistura as minhas
lágrimas tão mudas
no teu rosto de cigana

a minha garganta ofegante
è um arquipélago maldito


a minha fronte a tampa
 de um poço desejando
amor

a enfrentar a tua altura
com brigas angústias !




Alejandra Pizarnik

um signo na tua sombra
ir - me num barco negro

as sombras amparam
o fumo veloz que dança
na trama deste festival

silencioso as sombras escondem

os vários pontos escuros
que giram vezes sem conta

entre os teus olhos e a minha
pena
retarda o teu ofegante

a minha têmpora pulsa
infinita vezes o teu nome

se os teus olhos pudessem
ver aqui e vir atè aqui

sim aqui

amor aqui entre sombras
fumo e dança

entre as sombras eu e o escuro



Roteiro do Silêncio

hilda hilis - roteiro do silêncio

não há  silêncio bastante
para o meu silêncio
nas prisões e nos conventos
nas igrejas e nos conventos
nas igrejas e na noite


não hà silêncio bastante
para o meu silêncio

os amantes no quarto
os ratos no muro

a menina
nos longos corredores
do colégio

todos os cães perdidos
pelos quais tenho sofrido ;

o meu silêncio è maior
que toda solidão e que
todo o silêncio


A CAIR

Vou a cair

o vinho è como um choro
desolado que umudece
a minha juventude

frente aos teus beijos
que a outra engole

o vinho è o exilir
que pulveriza

os pertences desejos
do meu corpo
que esvoaça gemendo
frente a tua efìge de sombra
estrovinhada



ILHA DE MOÇAMBIQUE

Ilha de Moçambique

as ruas  desertas cheias
de vento

como um deus
as paredes enormes
do forte assistindo
a tudo

a areia longa e lisa
e a timidez do mar

a lìngua perdida
como ruínas

na mão o cavalo -
- marinho e os sonhos

o tempo sem chegada
e sem partida

assim haveria de ser
mais tarde a minha
vida




MOÇAMBIQUE

Moçambique 1975 - Praça Mouzinho de Albuquerque

era um dia solitário
e pequeno
dia confidencial
e toscamente feito
dia de homenagem

nas traseiras o instante

parecia feito para
remar

quando homens sem
nome apearam Mouzinho
vi a natureza das coisas
o mundo de pressa e de
emenda que me levava
ignorado

eu não - que não estava ali
- mas com os olhos limpos
que podiam ser os meus





MÙSICA

À  música  não  para
e ouço encontro a realidade
mais perfeito fica .

Caminhas celebrando
a tua leveza

passas brevemente
pelo mundo


a eternidade não levas
nos passos

è a tua distância
que è eterna

e nada encontras
nesse solo
além do instante

fica de ti o que sò tu
soubeste percorrer
e transformar e por
onde ninguém passou

e chorarás de consolo
e gratidão
ao limpares as chagas
de teus pès



LIBERDADF

a palavra liberdade
e a sua luz total

ali a beira dos nossos
olhos se perdeu
depois que a trouxemos
inteira no seu canto


a tivemos como um presente
inesperado em volta das nossas
mãos a esquecemos como a
mobília de todos os dias

obrigados a seguir as convicções
e as leis do universo em frente
dos nossos olhos se perdeu

agora o que nos resta dela
não chega para lembrar
o tempo em que a palavra
liberdade cabia na boca
de cada um como um
fruto e em cada homem
como um fruto

e em cada homem com
desespero imortalizava
cada hora com a mesma
arte de tecer um poema
manual

um poema sem arquitectura
onde o arado caminhasse
com o vento nem sempre
para o mesmo lado

como porém o sentido
da sua deriva

transparente como um nome
ordena  sem esforço

a musica penetra - me
e por ela parto em direcção
de mim próprio onde medito
e me demoro

sua medida tão certa atravessa - me
como um fio de navalha e fecho
os olhos para não saber que existo

num momento cristalino divago
e agora vejo como o silêncio não
faz parte do mundo .




Antes de Mim

antes de mim
já diziam as palavras
e quando ouço
a memória de seus prodígios
paro ai e me demoro
como se abandona -  se
o meu próprio reino

o que procuro não sei
mas è completo a cada

novo espanto e nítido
como se atravessasse
a herança do que me povoa

as vezes olho para o meu
corpo e não è o meu corpo
que vejo nas coisas destruídas
e re construìdas que emergem
intensamente e se multiplicam

trazem em si um rosto dilacerado
que não è o meu

por não ter a certeza no que vejo
fecho a chave os meus sentidos
e espero apenas que o entendimento
ponha verdade nas coisas que projecto

porém porque preciso da mais veloz
alegria dou - me por vencido toco
e sinto com espanto o dia






quarta-feira, 8 de março de 2017

Distância

DISTÂNCIA


O meu  ser è repleto
de barcos brancos
sentindo a rebentar
sob as reminiscências
do teu olhar

quero destruir a comichão
das tuas pestanas

quero evitar a inquietude
dos teus lábios

porque a tua visão
fantassmagòrica





o tempo

escoa - se por entre os teus cabelos em ti as leivas as fontes as fontes e as sementes os mais secretos caminhos em ti as searas ainda futur...