terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Noite

Quando fecho os olhos
para  descansar
sò fica o vazio
das coisas

e muitas imagens
se inscrevem no
meu silêncio

quando estou a descansar
e fecho os olhos
as coisas interiores
perdem a sua forma
habitual

e embora prisioneiras
navegam num mar
desmedido

são coisas e tem alma
própria e as nomeio

pedra água pau casa
e equilibro -me

e perco -me no seu centro
mas trato - as como pessoas
iguais a mim

nunca estou sò como as crianças
que de frente a ninguém estão no
meio dos seus amigos

são as coisas e povoam tudo como
pessoas e cercam - me o seu coração
lhes bate e chamam - me
suas almas atravesso
e as trato por tu .


Barco do Amor

Barco do Amor

Vais como um grande deus
adormecido
mas levas contigo
um nome desconhecido .

Há em tudo~um apelo
mudo
tudo pede - me
um favor e comove - me
e a mais pequena coisa

são como crianças
e com a sua presença
guiam - me e tornam
 - me atento e sò ouço
esse pleno encanto e
lhe acudo .

A mais pequena
coisa
encontra- me e fere
e torna - me todo .



segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

O HOMEM

O  homem que eu vi
anda direito e em equilíbrio
caminha sem nada  perguntar

O que eu vi
tem um nome ,
vai como um perfeito
atleta segue sem esforço
e sem cansaço e não e não .


Porque busca outro tempo
e não se vê .

Sigo-o e vou de rastro
e a mim próprio resisto
quando eu partir è esse
homem que vereis .

Das coisas que ninguém
olha e por isso passa sem
se vereis .

Das coisas que ninguém
olha e por isso passa sem
se ver
olho o pormenor da sua arte
esquecida , quando os outros
descobrem o seu segredo

o meu olhar paira jà distraído
distante e tem o ar impreciso
das coisas  incertas .



quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

A minha mente mora no peito

A minha mente mora no peito

Não gosto de linhas rectas
sou disperso
sou desordem
o agora fascina - me
não sou normal
nem mesmo igual
sou o contrário
a face oculta do armário
que tu não consegues abrir
è o existir atravessado

talvez eu  seja
o seu quadrado
basta querer ficar .






Soneto do amor cativo

Soneto do amor cativo

Se è sem duvida
     Amor
esta explosão
de tantas sensações
contraditarias ;
a sórdida mistura das memória ,
tão longe  da verdade da invenção ;


O espelho deformante ;
a profusão
de frases insensatas ,
incensarias ;

a cúmplice partilha nas histórias
do que os outros dirão ou ou não
dirão ;

Se è sem duvida o amor
a cobardia de buscar nos
lençóis a mais sombria
razão de encantamento
e desprezo ;

Não há duvida , amor ,
que te não fujo

e que , por ti , tão cego ,
surdo e sujo ,
tenho vivido
eternamente preso.




Mendigo

Mendigo

Na penumbra da noite
vagueia um vadio mendigo
como nunca ninguém viu
empoleirado nas canadianas
ia de bairro em bairro
contar suas malambas
sem olhos para ver e pernas
para andar

là ia devagarinho a cantarolar
de dia todos jà sabiam onde
ia parar aquele pobre mendigo
que gostava do luar

tinha a missão de alegrar
os outros por onde passava

a lição da vida ninguém se
esquecia por nada estar dito

todos os dias andava na torreira
do Sol sem perder suas forças
melhor que o rock  roll e as
suas  drogas

jà era tarde não tinha onde
ficar mendigo dos olhos
e do habitar

là ia ele a sorrir alegremente
as pessoas perguntavam- lhe
o porquê de estar contente

e ele modesto dizia
o meu coração está
quente

fazia uma reza ,o pobre
comida de nobre
  abençoado

vindo do céu
cheio de luz

sentou - se de banho
   tomado

Jesus Cristo seu irmão
  imaculado

segredo daquele homem
que se levantava cedo
quando os outros dormiam
cantar de madrugada ao
    anoitecer

ele não tinha dinheiro
mas Deus dava - lhe
   o viver

fez um pacto
nunca quebrado
atè morrer
cantar todos os dias
  a sua vida
para alguns aprenderem .





terça-feira, 24 de janeiro de 2017

`As àguas

As águas que um dia nasceram
onde marcaste o peso jovem da
 carne inspiram longamente
a nossa vida .

As sombras que rodeiam o êxtase ,
os bichos que levam ao fim o instinto
seu bárbaro fulgor ,o rosto divino
impresso no lido , a casa morta , a
montanha inspirada ,o mar , os

centauros do crepúsculo
- aspiram longamente
a nossa vida .

Cantar longamente .
Cantar ?

Uma mulher com quem
beber e morrer

quando fora se abrir
o  instinto da noite
e uma ave o trespassar
por um grito marítimo

e o pão for invadido
pelas ondas
- seu corpo arderá comigo
  mansamente sob os olhos
palpitantes

ele - imagina vertiginoso
e alta um certo pensamento
de alegria e pudor .

Seu corpo arderá para mim
sobre um lençol mordido
por flores de água.



Clarão de forno

Clarão de forno o imenso
 afluxo de hemoglobina
- : a blasfémia da palavra
à morte devotada estendida
no mesmíssimo sangue que
o teu coração que o nosso
coração aberto ainda esbanja
            Pulsão



-  Depois o quê - ( depois o quê ? )
irrompe o crânio da esfinge do gueto

- que sonda a sujidade a febre dos
que desistiram « como tu , ainda
pairam , ainda passam fome ,
emparedados no pão da carne
de ninguém , ainda se fazem sentir » :

como se na distância entre o poente
e o nascente ,uma mão tivesse
( o poente e o nascente )
reunindo a alma e a tivesse trabalhado
com as pedras rumo ao condimento
da terra .




segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Eu que não sei quase nada do mar

Eu que não sei quase nada do mar

Garimpeiro da beleza
achei - te
a tua beira e tu me
achas - te

agarrei - te a cintura ,
segura - me
e jura que não me

deixarás soltar - te
e bebo - te toda,
deixando - te tonta
de tanto prazer

navegando nos teus seios ,
partindo a meio o mar
jamais te irei esquecer

eu nada sei quase nada do
mar descobri que não sei
nada de mim

noite clara,noite rara,
levando- nos além da
arrebatação jà não tenho
medo de saber quem
somos na escuridão

agarrei - me nos teus cabelos
a tua boca quente

para não me afogar
a tua lìngua correntiça
lambe as minhas pernas

como faz o mar e vem
bebendo - me todo ,

deixando - me tonto
de tanto prazer
navegando nos teus seios
partindo o mar ao meio
jamais te esquecerei

eu não sei nada do mar
descobri que não sei nada
de mim!



Canção do amor perfeito

Canção do amor perfeito

Seca o amor , seca as palavras .
Deixa tudo solto , leve , desnudado
para sempre como as areias nas águas .

O tempo seca a saudade , seca as lembranças
e as lágrimas  .
Deixa algum retrato apenas , vagando seco
e vazio como estas conchas das praias .

O tempo seca o desejo
e as suas velhas batalhas .

Seca o frágil arabescos ,
vestígios de musgo humano ,
na tensa tufa mortuária .

Esperei pelo tempo com a
sua conquista árida
esperei que te seque ,
não na terra , amor
- perfeito , num tempo
depois das almas .





Kama Sutra

Kama Sutra

nada como a nossa cama
para inventarmos
loucos abraços ;

è nela que
nòs
nos amamos ,
confundindo pernas
e braços .




Pedaços que nos tocam

Pedaços de mim
para ti , meu amor
sinta  - os
a escuridão que unifica
tudo fria e escura ,
mas justa .

Informe
o tamanho
ou cor

em um mesmo preto ,
beleza vai - me vai
existir apenas para
a luz



Ao meu amor

Pedaços que me tocam ...

Sente - os ,meu amor !

aprendi com a primavera
a deixar -me cortar e voltar
inteiro .

disse Sócrates num belo dia ;
« aquilo que não puderes

controlar ,não ordenes » .

a cada escolha , meu amor
tu tentas a tempestade
do outro lado
de outras Luas
Dà - nos poemas

eu , que me deitava
com migalhas ,
Hoje cobiço a padaria .

« We never you are asked
  if you can do a job , tell em ,
  centrainly i can !
 -  and get busy and find
    out how to do it »
 ( T . Roosevelt )





Deixa - me amar - te

Deixa  -  me amar - te
na escuridão da noite
percorrer as cores da
 tua pele sobre a influência
da Lua as nuances dos teus
desejos entre carícias que
saboreiam os nossos corpos

Deixa - me perder entre os teus
encantos passados que batem

com as paixões acesas
sentir - me entre os teus
ventos

como os suspiros que espantam
as contendas amorosas

navegar no teu olhar atento a
perder nos teus desejos

Deixa - me sentir como se
fosse parar a respiração com
os teus beijos

para ressuscitar de novo entre
os teus braços

passear pela tua alma
sentindo como a minha
a abraçarem- se

Deixa - me amar - te
na escuridão da noite
e nas luzes do alvorecer
de cada dia

sentindo a tua pele è minha
e a minha alma è tua

Fausto Fonseca

Tu me dàs o teu amor
gota a gota

por favor abre o teu
coração estou a morrer
de amor por favor querida ...
por favor

You give me your love
drop by drop
please open your heart
i am dying of love
please baby ... please !



Poema ao meu Amor

Sobre um Poema

Um poema cresce inseguramente
na confusão da carne , sob ainda
as palavras , sò feracidade e gosto ,
talvez como sangue pelos canais do
ser .

Fora existe o mundo. Fora , a esplêndida
violência ou os bagos de uva onde nascem

as raìzes minúsculas do Sol .
Fora , os corpos genuínos e
inalteráveis do nosso AMOR ,
os rios a grande paz exterior
das coisas ,

as folhas dormindo o silêncio ,
as sementes à beira do vento ,
- a hora teatral da posse .

E o poema cresce tomando
o seu regaço .
E jà nenhum poder destrói o
poema insustentável , único ,

invade as órbitas , a face amorfa
das paredes , a miséria dos minutos .
a força sustida das coisas , a redonda
e livre harmonia do mundo .

- Em baixo o instrumento perplexo
ignora a espinha do mistèrio - E o
poema faz - se contra o tempo e a carne .

Fausto Fonseca

Herberto Helder



domingo, 22 de janeiro de 2017

Palavras que me tocam

Verdes são os campos

Palavras que me tocam ...
Sinta - nas


Verdes são os campos
De cor de limão ;
Assim são os olhos
Do meu coração .

Campo , que te entendes
Com verdura bela ;
Ovelhas , que nela
Vosso pasto tendes ,
De ervas vos mantendes
Que traz o verão ,
E eu lembranças
Do meu coração .

Gados que pasteis
com contentamento
Não nos entendeis ;

Isso que comeis
Não são ervas , não :
São graças dos olhos
Do meu coração .

Fausto Fonseca

Luis de Camões
( Poeta português , 1524 ou 1525 - 1579 ou 1580 )



sábado, 21 de janeiro de 2017

O conhecimento de nada serve no AMOR

O conhecimento de nada serve no  AMOR

O « Conhece - te !» do filósofo antigo , è uma tolice .
Quem è que se conhece ?
Quem pode - se responsabilizar - se pelos seus actos
de amanhã ? Não está definida a virtude nem o crime.
Tu hoje levantas uma mulher do nada com entusiasmo
de um inspirado do céu ; amanhã arrojas essa mulher ao
nada com a força de um instrumento  , que obedece ao braço
imperioso de uma vontade superior.

Não sabes se foste ontem ,ou se ès virtuoso
... Somos lamentáveis caro Guilherme , a
depravação da raças humana prova - se em
ti ,e em mim , nesses que julgam beber mais
puras as águas da fonte da ciência .

A inteligência è a corrupção ostentando - se
em toda a sua luz. .



Fausto Fonseca

Camilo Castelo Branco ,in Onde està a felicidade ? ( 1856 )




VIVER COM O CORAÇÃO OU COM A RAZÃO

Viver com o coração ou com a razão


Viver segundo a razão , alvitre que os filósofos
pregoam , è bom de dizer - se e desejar - se ,mas
enquanto os filósofos não derem uma razão a
cada homem , e essa razão igual à todos os homens ,
o apostolado è todo inútil .

Melhor avisados andam os moralistas religiosos,

subordinando a humanidade aos ditames
de uma nova fé ; todavia , e sem menoscabo
dos preceitos evangélicos que altamente venero,

parece -me que o homem sincero crente , e devotado
cristão , no meio destes muros, que vivem à luz do
século ,e meneiam os negócios temporais a seu sabor ,

tal homem , se pedir o teu bom juízo religioso a norma
dos deveres a respeitar ,e dos direitos a reclamar,ganha
credito de parvo, e morre sequestrado dos prazeres da
vida , se quiseres poupar - se ao desgosto de ser apupado,
procurando - os  ,

Como sabem ,eu nunca andei em boas - avenças com a religião
dos meus pais; e por isso me abstenho de lhe imputar
responsabilidade das minhas quedas , seja dos pináculos aéreos
onde o coração me alçou , seja raso da razão ,onde as quedas bem
que baixas , são mais imaginiosas .

Eu comparo o cair das alturas do coração à queda que se dà de um
garboso cavalo ; quem nos vê cair pode ser que nos deplore ; mas
de certo nos não acha ridículos .

Ora ,o cair da baixeza dos cálculos racionais è coisa que faz riso
aos outros, , e por isso muito comparável ao tombo que damos
de um ignóbil burro.

O cavalo despenhou - nos e , com as crinas eriçadas ,resfolga e arqueia - se
com gentis concorvos .

O burro,depois que nos sacode pelas orelhas ,não è raro escoicear - nos .
È o mesmo , se a comparação vos quadra , nas quedas do amor e nas
quedas do raciocínio

Das primeiras  erguemo- nos  sacudindo as folhas secas de umas ilusões,
enquanto outros gomos vêm desbrolhando na alma para mais tarde reflorirem .

Das segunda s não hà senão lama a sacudir e muita pisadura a curar com o bálsamo
do tempo e duma vida brutalmente desapegada de tudo que ultrapassa o momento
da sensação .

Fausto Fonseca

Camilo Castelo Branco, in Coração,cabeça , estômago ( 1862 )



 ,


Este Amor Infinito Imaculado

Este Amor Infinito Imaculado

Querida , o teu viver era um letargio,
Nenhuma aspiração te atormentava ;
A feita jà do jugo ao duro cargo ,teu
peito nem sequer desafogava .

Fui eu que te apontei um mundo
largo de novas sensações; teu peito
ansiava.

Ouvindo- me contar entre carícias ,
do livre e ardente amor tantas delícias !

Não te mentia , não sentiste - o,filha ,
esse AMOR INFINITO IMACULADO,
Estrela maga que incessante brilha da
alma pura ao casto AMOR SAGRADO ;

Afecto Nobre que jamais partilha o
coração de vício ulcerado .

Não sentes ,nem recordas , jà sequer ?
Quem deste AMOR te despenhou ,Mulher ?

Eu não! Se muitos crimes me desluzem ,
se pode transviar - me o seu encanto , ao
menos uma sò não me recusem , uma virtude
sò! Amar - te Tanto !

Embora injúrias contra mim se cruzem ,
cuspindo insultos neste AMOR tão Santo,
diz tu quem fui , quem sou , e se è verdade
o opròbrio aviltador da sociedade .

Fausto Fonseca

Camilo Castelo Branco,in Poemas dedicados a Ana Plàcido ( 1857 )


Como nasce o Amor ?

Como nasce o AMOR ?

Nem eu nem vòs sabeis como nasce
AMOR . Em fisiologia que è a ciência
do homem físico ,não se sabe .

A psicologia tambèm não diz nada a
esse respeito.

Os romances,que são mais amplos
expositores da matéria ,não avançam
coisa alguma ao que está dito  desde o

tempo de Labão e Rachel
atè a neta do arcediago e
filho de Ricarda .

Dizer que o AMOR è a sensualidade ,
além de grosseira definição , è falsidade
desmentida pela experiência .

Hà um AMOR que não rasteja nunca
no raso estrado das prospecções orgânicas .

Dizer que o AMOR è uma operação
puramente espiritual è um devaneio
de visionários ,  que trazem sempre
as mulheres pelas estrelas , ao mesmo
 tempo que elas, gravitando
materialmente para o centro do globo,
comem e bebem à maneira dos mortais ,
e atè as divindades de cantor de Aquiles.

Eu conheço homens sem faísca , que
se abrasam tocados pelo AMOR como
fósforo em presença do ar .

Eis aqui um fenómeno eminentemente
importante .

Ele , sò , sustenta a tese que o AMOR
não tem nada como corpo nem com o
espírito.

Eu creio que è um fluído,è pena porém ,
que eu não saiba o que è fluído para me
aqui uns ares pedantescos,ensinando
ao leitor ,mais ignorante que eu , coisas
que , de certo,o não privaria de continuar
a comer e a dormir ,

Fausto Fonseca

Camilo Castelo Branco ,in A Neta do Arcediago ( 1856 )








sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Colhe o dia porque ès ele

Colhe o dia ,porque ès ele

Uns  com os olhos postos no passado ,
vêem o que não vêem ; Outros feitos
os meus melhores olhos no futuro ,
vêem o que não pode ver - se .

Por que tão longe ir pôr o que
está perto - A segurança nossa ?
Este è o dia .

Esta è a hora ,este o momento , isto
e quem somos , e è tudo .

Perene flui a interminável hora
Que nos confessa nulos, No
mesmo hausto em que vivemos ,
morremos colhe o dia ,porque ès ele .

Fausto Fonseca

Ricardo Reis , in Odes
Heterónimo de Fernando Pessoa


È TÃO SUAVE A FUGA DESTE DIA

È tão suave a fuga deste dia

È tão suave a fuga deste dia ,
Lídia que não parece que vivemos .
Sem duvida que os deuses nos são
gratos a esta hora,
Em praga nobre desta fé que temos
na exilada verdade dos seus corpos
não dão o alto prémio de nos deixarem

ser convivas lúcidos da sua calma ,
herdeiros um momento de seu jeito
de viver toda a vida
dentro dum sò momento , dum sò
momento Lídia ,em que afastados
das terrenas angústias recebemos
delícias  dentro das  nossas almas
E sò um momento nos sentimos
 deuses imortais pela calma que
vestimos e altiva indiferença
às coisas passageiras.

Como quem guarda a coroa da vitória
estes fanados louros de um sò dia
 guardemos para termos ,no futuro
enrugado ,

Perne à nossa vista certa prova
de que um momentos deuses
nos amam  e nos deram uma
hora não nossa , mas do Olimpo.

Fausto Fonseca

Ricardo Reis ,in Odes
Heterónimo de Fernando Pessoa




VIVE SEM HORAS

Vive sem horas


Vive sem horas.Quanto mede
pesa , quanto pensas mede.
Num fluído incerto nexo,
como rio cujas ondas são
assim teus dias vê , e se te vires
passar,como a outrem , cala .



CADA UM CUMPRE O DESTINO QUE LHE CUMPRE

Cada um cumpra o destino
que lhe cumpre,e deseja o
destino que deseja ; nem
cumpre o que deseja ,
nem deseja o que cumpre .

Como as  pedras na orla
dos canteiros o Fado nos
dispõe e ali ficamos ;


Que sorte nos fez postos
onde havemos de sê - lo .

Do que nos coube não tenhamos
melhor conhecimento do quer nos
coube .
Cumpramos o que somos.
Nada mais nos è dado.

Fausto Fonseca

Ricardo  Reis , in Odes

Heterónimo de Fernando Pessoa




Vem sentar - te comigo , Lídia à Beira Rio .

Vem sentar - te comigo , Lídia
à Beira Rio .

Vem sentar - te comigo , Lídia à Beira
Rio . Sossegadamente  fitemos o seu curso
e aprendamos que a vida passa , e não estamos
de mãos alçadas .
        ( Enlacemos as mãos ).

Depois pensemos , crianças adultas , que a vida

passa e não fica, nada deixa
e nunca regressa , vai para
um mar muito longe,para
ao pè do Fado, mais longe
que os deuses .

Desenlacemos as mãos, porque não
vale a pena conversarmos .
Quer gozemos , ou não gozemos ,
passamos como o rio .

Mas vale saber passar silenciosamente
e sem desassossegos grandes .
Sem amores nem  , ódios , nem  paixões
que levantem a voz , nem invejas que dão
movimentos demais nos olhos , nem
cuidados porque se os tivesse o rio sempre
correria , e sempre iria dar ao mar ,

Amemo- nos tranquilamente pensando ,
que podemos se quiséssemos , trocar beijos
e abraços e caricias  o que,mais   nos vale è
 estarmos sentados um ao pè do outro ouvindo
correr o rio vendo - o .

Colhemos flores ,tu nelas e deixa - as no colo ,
e que o seu perfume suavize o momento -  este
momento que sossegadamente não cremos em
 nada
,pagões  inocentes da decadência .

Ao menos , se for sombra antes ,
lembra - te - às de mim depois
sem a minha lembrança te arda
ou te  fira ou te mova ,porque
nunca enlaçamos as mãos ou
nos  beijamos nem fomos mais
do que crianças .

E se antes do que eu levares o
òbolo ao barqueiro sombrio,
eu nada terei que sofrer ao
lembrar - me de ti .

Ser - me - às suave a memória
lembro-te assim à Beira Rio,
Pagã triste e com flores no
 regaço .

Fausto Fonseca

Ricardo Reis ,in Odes
Heterónimo de Fernando Pessoa






Quem nos ama não menos nos limita

Quem nos ama não menos nos limita

Não sò quem nos odeia ou inveja
nos limita e oprime ; quem nos ama
não menos nos limita .

Que os deuses me concedam
que despido .
De afectos , tenha a fria liberdade
dos pìcaros , sem nada .



Quem quer pouco , tem tudo ; quem quer
nada è livre ; quem não tem , e não deseja ,
        Homem ,  igual aos deuses .

Fausto  Fonseca

Ricardo Reis , in Odes
Heterònimo de Fernando Pessoa




Estàs sò

Estás  sò

Estás sò. Ninguém o sabe .
Cala e finge .
Mas finge sem fingimento .

Nada speres que eu em ti
não exista , cada um consigo
è triste .


Tens Sol  se há Sol  , ramos se ramos
buscas , sorte se  sorte è dada .

Fausto Fonseca

Ricardo Reis , in Odes
Heterónimo  de Fernando Pessoa .


Não temos mais decerto que o instante

Não temos mais que o instante

Atrás não torna ,nem como Orfeu,
 volve sua face , Saturno .
Sua severa fronte recebe
sò o lugar do futuro .

Não temos mais decerto
que o instante em que o
pensamos certo.
Não o pensamos , pois
não o façamos certo sem

pensamento .

Fausto Fonseca

Ricardo Reis , in Odes
Heterónimo de  Fernando Pessoa


TENHO MAIS ALMAS QUE UMA

Tenho mais almas que uma

Vivem em nòs inúmeros ;
Se penso  ou sinto, ignoro
Quem è que pensa que sente.
Sou somente o lugar onde se
sente ou pensa .

Tenho mais almas que uma.
Hà mais eu do que eu mesmo .
Existo toda via indiferente a
todos .

Faço - os calar : eu falo.
Ignoro - os . Nada ditam
A quem me sei ; eu escrevo.

Fausto Fonseca

Ricardo Reis .Odes
Heterónimo de Fernando Pessoa




O ERRO DE QUERER SER IGUAL A ALGUÈM

O erro de querer ser iguala alguém

Aqui neste misérrimo desterro
onde nem desterro estou, habito,
fiel sem que queira , aquele antigo
erro pelo qual sou prescrito .

O erro de querer ser igual a alguém
feliz em suma - quanto a sorte deu a
 cada coração o único bom ele poder

ser seu .

Fausto Fonseca

Ricardo Reis , in Odes
Heterònimo de Fernando Pessoa




REI DE TI PRÒPRIO

Rei de si próprio


não tenhas nada nas mãos
nem uma memória na alma ,
que quando te puserem nas
mãos o òbolo  último,ao
abrir -te a mão nada te cairá .

Que trono te querem dar Àtropo

to não tire? que louros não
fanem nos árbitros de Minos ?

Que horas que não tornem da
estrutura da sombra que seràs
quando foras na noite e ao fim
da estrada colhe as  flores mas
largas, das mãos mal as olhaste .

Sente - se ao sol .
Abdica e sê rei
de ti próprio .




terça-feira, 17 de janeiro de 2017

AMO O QUE VEJO

Amo o que vejo

Amo o que vejo
porque deixarei
qualquer dia de ver .
Amo tambèm porque è .

No plácido intervalo intervalo
em que me sinto ,
Do amar,mais que ser ,

Amo o haver tudo em mim .
Melhor não me dariam ,se
voltassem os primitivos
deuses,que tambèm nada
sabem.

Fausto Fonseca

Ricardo Reis , in Odes ( Inédito )
Heterónimo de Fernando Pessoa


VIVEM EM NÒS INÙMEROS

« Vivem em nòs inúmeros :
  Se penso ou sinto ,ignoro
Quem se pensa ou sente.

Sou somente o lugar
Onde se sente ou pensa.
Tenho mais almas que uma .
Há mais eu que eu mesmo
Existo toda via
Indiferente a todos

Faço calar ; eu falo .
Os impulsos cruzados
Do que sinto ou não sinto
Disputam em quem sou .
Ignoro- os  . Nada ditam
A quem me sei :eu escrevo»

Fausto Fonseca

Ricardo Reis



NO TEU ROSTO

No teu rosto

No teu rosto
competem mil madrugadas .

Nos teus lábios
a raiz do sangue
procura suas pétalas

A tua beleza
è o sobressalto da luz
num tremor de água

è a boca da paixão
mordendo o meu sossego.

Fausto Fonseca

Mia Couto , in Raízes do Orvalho





BEBER TODA A TUA TERNURA

Beber toda  ternura


Não te morada
habitar
como um beijo
entre os lábios
fingir ausente
e suspirar
( e o meu corpo

não se reconhece na espera )
percorrer com um sò gesto
o teu corpo
e beber toda a ternura
para refazer
o rosto em que desapareces
o abraço em que desobedeces.

Fausto Fonseca

Mia Couto,in Raiz de Orvalho.



O AMOR ,MEU AMOR

O Amor ,meu amor

Nosso amor è impuro
como a impureza è
a luz e a água e tudo
quanto nasce e vive
além do tempo .

Minhas pernas são água
as tuas são luz .

e dão volta ao universo
quando se enlaçam
atè se tornarem deserto
e  escuro.

E eu sofro de te abraçar
depois de te abraçar
para não sofrer.


E toco - te
para deixares de ter corpo
e o meu corpo nasce
quando se extingue o teu .


E respiro
para me sufocar
e espreito em tua claridade
para me cegar
meu sol vertido em lua
minha noite alvorecida .
Tu bebes
e eu me converto na tua sede

Meus lábios mordem
meus dentes beijam
minha pele te veste
e ficas ainda mais despida .

Pudesse eu ser tu
e em tua saudade
ser minha própria
espera .

Mas eu deito - me
no teu leito quando
apenas queria dormir
em ti.

E sonho- te
Quando ansiava
ser um sonho teu .

E levito voo de semente
para em mim mesmo te
 plantar menos que flor :
simples perfume
lembrança de pétalas
sem chão onde tombar

Teus olhos inundam os meus
e a minha vida jà sem leito
vai galgando margens atè
tudo ser mar esse mar que
sò há depois do mar .

Fausto Fonseca

Mia Couto ,in Idades Cidades Divindades








segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

A SERENIDADE

Serenidade

A serenidade não feita de troça
nem de narcisismo
 conhecimento supremo
e amor,afirmação da
realidade,atenção desperta
junto à borda dos grandes
fundos e de todos os abismos ;


È uma virtude dos santos e dos cavaleiro
indestrutível e cresce com a idade e cresce
com a idade e a aproximação da morte .

È o segredo da beleza  e da verdadeira
substância de toda arte .

O poeta que celebra,na dança dos seus
versos , as magnificências e os terrores
e os terrores da vida,o músico que lhes
dà os tons de uma pura presença ,
trazem-nos a luz ; aumentam a alegria
e a clareza sobre a terra,mesmo se o
primeiro nos fazem passar por lágrimas
e emoções dolorosas .

Talvez o poeta cujos versos nos encantam
tinha sido um triste ,e o músico um sonhador
 melancólico :

Isso não impede que as suas obras participem
da serenidade dos deuses e das estrelas .

O que eles dão , não são mais as suas trevas,
a sua dor ou o seu medo ,è sò uma gota de
pura  luz,de eterna serenidade .

Mesmo quando povos inteiros ,línguas inteiras,
procuram explorar as profundezas  cósmicas
em mitos , cosmogonia ,religiões,o ùltimo
supremo termo que poderão atingir è essa
 serenidade.


Fausto Fonseca

Hermann Hess ,in O Jogo das Conversas de Vidro



A BUSCA DA VERDADE

A busca da verdade

A verdade è ideal tipicamente
jovem,o amor por seu turno ,
um ideal de pessoas maduras
e daqueles que se esforçam
para estarem preparados
para enfrentar a diminuição
das energias e a morte .


As  pessoas que pensam
sò deixam de ambicionar
a verdade quando se dão
conta que o humano está
extraordinariamente mal
dotado pela natureza
para o reconhecimento
da verdade objectiva,

pelo que a busca da verdade
não pode ser actividade
humana por excelência .

Mas tambèm aqueles que jamais
chegam as tais conclusões fazem,
no decurso das suas experiências
inconscientes ,um percurso semelhante.

Ter consigo a verdade , a razão e o
conhecimento,consiguiràs distinguir
com precisão entre o Bem e o Mal ,
e em consequência disso,poder julgar ,
punir e sentenciar , poder fazer e
declarar guerra -tudo isto è próprio
dos jovens e è a juventude que assenta
bem . Se  porém , quando envelhecemos ,
continuamos a atear nos a estes ideais ,
fenece a jà se si pouco vigorosa capacidade
de reconhecer instintivamente a verdade
sobre - humana .


Fausto Fonseca

Hermann Hess ,in Elogio a Velhice





A IDADE SÒ SE APLICA ÀS PESSOAS VULGARES

A idade sò se aplica às pessoas vulgares

A tendência para colocar uma ênfase
especial ou organizar a juventude
nunca me foi cara ;

para mim , a noção de pessoa
velha ou de pessoa nova sò

se aplica às pessoas vulgares .
Todos os seres humanos mais
dotados e mais diferenciados
são ora velhos ora novos ,do
mesmo modo ora são tristes
ora alegres .

È coisa dos mais velhos
lidar mais livre , mais
jovialmente,com maior
experiência e benevolência
com a própria capacidade
de amar do que os jovens .

Os mais idosos apressam- se
sempre a achar os jovens
 precoces demasiados velhos
para a idade , mas  são eles
 próprios que gostam de
imitar os comportamentos

 e maneiras da juventude ,
eles próprios são fanáticos ,
injustos , julgam - se deten -
tores de toda a verdade

e sentem - se facilmente
ofendidos .

A idade não è pior que a juventude ,
do mesmo modo que Lão - Tsè
não è pior que Buda e  o azul não
è pior que o vermelho.

A idade sò perde valor quando
quer fingir ser juventude .


Fausto Fonseca

Hermann Hess ,in Elogio a Velhice



A VIDA ACONTECE AGORA

A vida acontece

Identificar - se com a mente
è ser aprisionado no tempo :
a compulsão de viver è quase
exclusivamente das recordações
e por antecipação esta situação
gera uma preocupação interminà -
vel como o passado e com o futuro


e uma falta de vontade
de dignificar e reconhecer
o momento presente e permitir
que este seja a compulsão
nasce porque o passado
lhe dà uma identidade
e o futuro contém a
promessa de salvação
de realização sob forma
ambos são ilusões

quanto mais a pessoa
se concentra no tempo
( passado e futuro)
mais sente a falta
do Agora a coisa
mais preciosa que
existe porquê que è
que o agora a coisa
mais preciosa que
existe ?

primeiro porque è o
única è tudo tudo
o que existe  o
 presente eterno
è o espaço no
âmbito do qual
a vida se
 desenrola o único
factor que permanece
constante a vida acontece
 agora

nunca houve uma altura
em que a vida não fosse
no agora nem nunca
haverá

em segundo o agora
è o único ponto que
 pode levar o leitor
além dos limites
circunscritos da
mente è o seu
único ponto
de acesso
ao mundo
eterno e sem
forma ser

alguma vez o leitor
experimentou fez
pensou ou  sentiu
fora do agora ?
è possível que
 alguma coisa
aconteça ou se dê
fora do agora ?

a resposta è óbvia
não è ?

nunca nada aconteceu
no passado mas sim
no Agora
nunca nada vai
acontecer no futuro
mas sim no Agora .

Fausto Fonseca

Eckhart Tolle




DIZ O MEU NOME

Diz o meu nome

Diz  o meu nome
pronuncia - o
como se as silabas
te queimassem
           ( os lábios
sopra - o com suavidade
de uma confidência
para que o escuro apeteça

para que se desatem
os teus cabelos
para que aconteça

Porque eu cresço
para ti

sou eu dentro de ti
que bebe a última
gota e te conduzo
 a um lugar sem
 tempo nem contorno
porque apenas para os
teus olhos sou gesto
e core dentro recolho
- me ferido exausto
dos combates em que
a mim próprio me venci

Porque a minha mão
infatigável procura
o interior e o avesso
da aparência

Porque o tempo
em que vivo
morre de ser
ontem
e è urgente inventar
outra maneira de
navegar outro
rumo outro pulsar
para dar esperança
aos portos que
aguardam pensativos

Fausto Fonseca

Mia Couto , in ,Raìz de Orvalho




PARA TI

Para  Ti

Foi para ti
que desfolhei a chuva
para ti soltei o perfume da terra
toquei o nada
e para ti
foi tudo

Para ti criei todas

as palavras
e todas me faltaram
no minuto que talhei
o sabor do sempre

Para ti dei voz
as minhas palavras
as minhas mãos
abri os gomos do tempo
assaltei o mundo
e pensei que tudo estava
em nòs
nesse doce engano
de tudo sermos donos
sem nada termos
simplesmente porque
era noite e  não
dormíamos eu descia
no teu peito para me
procurar e antes
que a escuridão
cingisse a cintura
ficávamos nos olhos
vivendo de um sò
amando de umas sò
 vida .


Fausto Fonseca

Mia Couto ,in Raìz de Orvalho e Outros


VONTADE DE MUDAR

Vontade de mudar


Se achas que a situação
da tua vida è insatisfeita
ou atè mesmo intolerável
sò te rendendo primeiro
consiguiràs quebrar o
 padrão de resistência
inconsciente que perpétua

essa situação
render - se è perfeitamente
compatível com tomar
 providências como iniciar
uma mudança ou alcançar
metas

mas no estado de rendição
há numa energia totalmente
diferente uma qualidade
diferente que ocorre no
 que fizeres

ao renderes- te ligaste - te
novamente energia da fonte
de ser  e se o que fizeres
estiver infuso do ser
tornar - se - à uma
celebração rejubilaste
da energia da vida
que te  levará mais
profundamente para
dentro do Agora
através da não resistência
a qualidade de tido o que
 fizeres ou criares
será incomensuravelmente
realçada os resultados

tomarão conta de si próprio
e reflectirão essa qualidade
poderíamos chama - lhe
" acção rendida "
Não è o trabalho tal como
conhecemos desde a milhares
de anos a medida que mais
seres humanos forem despertando
a palavra trabalho desaparecerá
do nosso vocabulário e talvez
se crie uma nova palavra em
sua substituição .

Fausto Fonseca

Eckhart Telle ,in A Pràtica do Agora







AMEI - TE SEM SABER

Amei- te sem saber

No avesso das palavras
na contrària face
da minha solidão
eu te amei
e acariciei
o teu imperceptível crescer
como carne da lua
nos nocturnos lábios entre abertos


E amei - te sem saberes
sem o saber
amando de te procurar
amando de te inventar

No contorno de fogo
desenhei o teu rosto
e para te reconhecer
mudei de corpo
troquei de noites
juntei crepúsculos e alvorada

Para me acostumar
à tua interminente ausência
ensinei as timbilas
a espera do silêncio

Fausto Fonseca

Mia Couto , in Raìz do Orvalho


NÃO HÀ DOR QUE JUSTIFIQUE A FUGA

Não dor que justifique a fuga

a escuridão as trevas
desesperadas è esse o
círculo terrível do dia -
 a - dia por que è que
uma pessoa se levanta
de manhã come bebe
e deita - se outra vez ?


a criança o selvagem o jovem
saudável animal  não padecem
sob a rotina deste círculo de
coisas e actividades

 indiferentes aquele a quem
os pensamentos não atormentam
alegra - se como levantar pela
 manhã e com o comer e o beber
achaque è o suficiente e não quer
outra coisa

mas quem viu esta naturalidade
perde - se procura no discurso
do dia ansioso e desesperado
os momentos da verdadeira
vida cujo cintilações as torna
feliz e que apagam a sensação
que o tempo reúne em si todos
os pensamentos relativos ao
sentido e ao objectivo de tudo
podem chamar a esses
 momentos criadores porque
parece que trazem a sensação
de união com o criador porque
se sente tudo como desejado
mesmo que seja obra do acaso
è aquilo que os mistìcos chamam
união com Deus talvez seja luz
muito clara desses momentos
que faz parecer tudo tão escuro

talvez a libertadora leveza desses
momentos faça sentir o resto da
 vida tão pesada pegajosa e
 opressiva

não sei não aprofundei muito
o pensamento tirada filosófica
mas sei que há bem -aventurança
e um paraíso tem de ser uma
 duração incólume de tais
 momentos e se pode obter
esta felicidade pela sublimação
na dor não há nenhuma do que
justifique a fuga .

Fausto Fonseca

Hermann Hess ,
in Gertrud ( Personagem Kuhn )





O Instantes antes do beijo

O Instantes antes do beijo

Não quero o primeiro beijo
basta - me
o instante antes do beijo .

Quero- me
corpo ante abismo,
terra no rasgão do sismo.

O lábio ardendo
entre tremor e tremor
o escurecer da luz
no desaguar dos corpos ;
O amor não tem depois.

Quero o vulcão
que na terra não tocao
o beijo antes de ser boca .

Fausto Foneca

Mia Couto ,in Tradutor da chuva


domingo, 15 de janeiro de 2017

ESTRADA NOVA

Estrada  nova

eu canto a humanidade
leva -me dentro do seu
coração eu dou- lhe a
resolução e a fé inabalável

vereis as montanhas

havemos de vencê - las
em breve e serão nossas
as planícies abertas de
espanto então o canto
dos poetas serão pássaros
a voar na montanha clara



LOUCURAS

Loucuras

aqueles que cometem
loucuras de amor
jamais
merecerão um
manicómio pois
eles gozam de saùde
e demais plena consciência



GRANDEZA

Grandeza

O dia da grandeza humana
está próximo solta - te voz
e proclama ardeu Sodoma
ardeu Gomorra !

os cadáveres e flores
floresceram de vermelho
e vão contentes e são
pureza


e os meninos brincam
e colhem as flores
brancas e vermelhas
e são pureza

as mulheres enxugam
as lágrimas e tomam
os meninos nos braços

e dão- lhes de mamar
e os homens erguem
a fonte fitam o nascente
e marcham  o o dia da
 nossa grandeza.


A CRIANÇA DENTRO DE NÒS

A criança dentro de nòs

Todas as crianças ,enquanto
ainda vivem do seu mistério,
estão sempre ocupadas nas
suas almas com à única coisa
importante,que são elas próprias


e a sua relação enigmática
com o mundo a sua volta .

Os descobridores e as pessoas
sabias voltam a essa ocupação
a medida que amadurecem.

A maioria das pessoas , no entanto,
esquecem - se  e deixam para sempre
este mundo interior que è realmente
significativo muito cedo nas suas vidas.

Como almas perdidas elas vagueiam ,
durante todas as suas vidas,num
labirinto multicolorido de preocupações,
desejos e objectivos ,mas nenhum deles
habita verdadeiramente nos seus íntimos
nem os levará ao seu núcleo mas íntimo
e à sua casa.

fausto fonseca

Hermann Hess,in Ìris




o tempo

escoa - se por entre os teus cabelos em ti as leivas as fontes as fontes e as sementes os mais secretos caminhos em ti as searas ainda futur...