Não gosto de linhas rectas
sou disperso
sou desordem
o agora fascina - me
não sou normal
nem mesmo igual
sou o contrário
a face oculta do armário
que tu não consegues abrir
è o existir atravessado
talvez eu seja
o seu quadrado
basta querer ficar .
Na penumbra da noite
vagueia um vadio mendigo
como nunca ninguém viu
empoleirado nas canadianas
ia de bairro em bairro
contar suas malambas
sem olhos para ver e pernas
para andar
là ia devagarinho a cantarolar
de dia todos jà sabiam onde
ia parar aquele pobre mendigo
que gostava do luar
tinha a missão de alegrar
os outros por onde passava
a lição da vida ninguém se
esquecia por nada estar dito
todos os dias andava na torreira
do Sol sem perder suas forças
melhor que o rock roll e as
suas drogas
jà era tarde não tinha onde
ficar mendigo dos olhos
e do habitar
là ia ele a sorrir alegremente
as pessoas perguntavam- lhe
o porquê de estar contente
e ele modesto dizia
o meu coração está
quente
fazia uma reza ,o pobre
comida de nobre
abençoado
vindo do céu
cheio de luz
sentou - se de banho
tomado
Jesus Cristo seu irmão
imaculado
segredo daquele homem
que se levantava cedo
quando os outros dormiam
cantar de madrugada ao
anoitecer
ele não tinha dinheiro
mas Deus dava - lhe
o viver
fez um pacto
nunca quebrado
atè morrer
cantar todos os dias
a sua vida
para alguns aprenderem .
As águas que um dia nasceram
onde marcaste o peso jovem da
carne inspiram longamente
a nossa vida .
As sombras que rodeiam o êxtase ,
os bichos que levam ao fim o instinto
seu bárbaro fulgor ,o rosto divino
impresso no lido , a casa morta , a
montanha inspirada ,o mar , os
centauros do crepúsculo
- aspiram longamente
a nossa vida .
Cantar longamente .
Cantar ?
Uma mulher com quem
beber e morrer
quando fora se abrir
o instinto da noite
e uma ave o trespassar
por um grito marítimo
e o pão for invadido
pelas ondas
- seu corpo arderá comigo
mansamente sob os olhos
palpitantes
ele - imagina vertiginoso
e alta um certo pensamento
de alegria e pudor .
Seu corpo arderá para mim
sobre um lençol mordido
por flores de água.
Clarão de forno o imenso
afluxo de hemoglobina
- : a blasfémia da palavra
à morte devotada estendida
no mesmíssimo sangue que
o teu coração que o nosso
coração aberto ainda esbanja
Pulsão
- Depois o quê - ( depois o quê ? )
irrompe o crânio da esfinge do gueto
- que sonda a sujidade a febre dos
que desistiram « como tu , ainda
pairam , ainda passam fome ,
emparedados no pão da carne
de ninguém , ainda se fazem sentir » :
como se na distância entre o poente
e o nascente ,uma mão tivesse
( o poente e o nascente )
reunindo a alma e a tivesse trabalhado
com as pedras rumo ao condimento
da terra .
Deixa - me amar - te
na escuridão da noite
percorrer as cores da
tua pele sobre a influência
da Lua as nuances dos teus
desejos entre carícias que
saboreiam os nossos corpos
Deixa - me perder entre os teus
encantos passados que batem
com as paixões acesas
sentir - me entre os teus
ventos
como os suspiros que espantam
as contendas amorosas
navegar no teu olhar atento a
perder nos teus desejos
Deixa - me sentir como se
fosse parar a respiração com
os teus beijos
para ressuscitar de novo entre
os teus braços
passear pela tua alma
sentindo como a minha
a abraçarem- se
Deixa - me amar - te
na escuridão da noite
e nas luzes do alvorecer
de cada dia
sentindo a tua pele è minha
e a minha alma è tua
Fausto Fonseca
Tu me dàs o teu amor
gota a gota
por favor abre o teu
coração estou a morrer
de amor por favor querida ...
por favor
You give me your love
drop by drop
please open your heart
i am dying of love
please baby ... please !
Verdes são os campos
De cor de limão ;
Assim são os olhos
Do meu coração .
Campo , que te entendes
Com verdura bela ;
Ovelhas , que nela
Vosso pasto tendes ,
De ervas vos mantendes
Que traz o verão ,
E eu lembranças
Do meu coração .
Gados que pasteis
com contentamento
Não nos entendeis ;
Isso que comeis
Não são ervas , não :
São graças dos olhos
Do meu coração .
Fausto Fonseca
Luis de Camões
( Poeta português , 1524 ou 1525 - 1579 ou 1580 )
O « Conhece - te !» do filósofo antigo , è uma tolice .
Quem è que se conhece ?
Quem pode - se responsabilizar - se pelos seus actos
de amanhã ? Não está definida a virtude nem o crime.
Tu hoje levantas uma mulher do nada com entusiasmo
de um inspirado do céu ; amanhã arrojas essa mulher ao
nada com a força de um instrumento , que obedece ao braço
imperioso de uma vontade superior.
Não sabes se foste ontem ,ou se ès virtuoso
... Somos lamentáveis caro Guilherme , a
depravação da raças humana prova - se em
ti ,e em mim , nesses que julgam beber mais
puras as águas da fonte da ciência .
A inteligência è a corrupção ostentando - se
em toda a sua luz. .
Fausto Fonseca
Camilo Castelo Branco ,in Onde està a felicidade ? ( 1856 )
Viver segundo a razão , alvitre que os filósofos
pregoam , è bom de dizer - se e desejar - se ,mas
enquanto os filósofos não derem uma razão a
cada homem , e essa razão igual à todos os homens ,
o apostolado è todo inútil .
Melhor avisados andam os moralistas religiosos,
subordinando a humanidade aos ditames
de uma nova fé ; todavia , e sem menoscabo
dos preceitos evangélicos que altamente venero,
parece -me que o homem sincero crente , e devotado
cristão , no meio destes muros, que vivem à luz do
século ,e meneiam os negócios temporais a seu sabor ,
tal homem , se pedir o teu bom juízo religioso a norma
dos deveres a respeitar ,e dos direitos a reclamar,ganha
credito de parvo, e morre sequestrado dos prazeres da
vida , se quiseres poupar - se ao desgosto de ser apupado,
procurando - os ,
Como sabem ,eu nunca andei em boas - avenças com a religião
dos meus pais; e por isso me abstenho de lhe imputar
responsabilidade das minhas quedas , seja dos pináculos aéreos
onde o coração me alçou , seja raso da razão ,onde as quedas bem
que baixas , são mais imaginiosas .
Eu comparo o cair das alturas do coração à queda que se dà de um
garboso cavalo ; quem nos vê cair pode ser que nos deplore ; mas
de certo nos não acha ridículos .
Ora ,o cair da baixeza dos cálculos racionais è coisa que faz riso
aos outros, , e por isso muito comparável ao tombo que damos
de um ignóbil burro.
O cavalo despenhou - nos e , com as crinas eriçadas ,resfolga e arqueia - se
com gentis concorvos .
O burro,depois que nos sacode pelas orelhas ,não è raro escoicear - nos .
È o mesmo , se a comparação vos quadra , nas quedas do amor e nas
quedas do raciocínio
Das primeiras erguemo- nos sacudindo as folhas secas de umas ilusões,
enquanto outros gomos vêm desbrolhando na alma para mais tarde reflorirem .
Das segunda s não hà senão lama a sacudir e muita pisadura a curar com o bálsamo
do tempo e duma vida brutalmente desapegada de tudo que ultrapassa o momento
da sensação .
Fausto Fonseca
Camilo Castelo Branco, in Coração,cabeça , estômago ( 1862 )
Querida , o teu viver era um letargio,
Nenhuma aspiração te atormentava ;
A feita jà do jugo ao duro cargo ,teu
peito nem sequer desafogava .
Fui eu que te apontei um mundo
largo de novas sensações; teu peito
ansiava.
Ouvindo- me contar entre carícias ,
do livre e ardente amor tantas delícias !
Não te mentia , não sentiste - o,filha ,
esse AMOR INFINITO IMACULADO,
Estrela maga que incessante brilha da
alma pura ao casto AMOR SAGRADO ;
Afecto Nobre que jamais partilha o
coração de vício ulcerado .
Não sentes ,nem recordas , jà sequer ?
Quem deste AMOR te despenhou ,Mulher ?
Eu não! Se muitos crimes me desluzem ,
se pode transviar - me o seu encanto , ao
menos uma sò não me recusem , uma virtude
sò! Amar - te Tanto !
Embora injúrias contra mim se cruzem ,
cuspindo insultos neste AMOR tão Santo,
diz tu quem fui , quem sou , e se è verdade
o opròbrio aviltador da sociedade .
Fausto Fonseca
Camilo Castelo Branco,in Poemas dedicados a Ana Plàcido ( 1857 )
Nem eu nem vòs sabeis como nasce
AMOR . Em fisiologia que è a ciência
do homem físico ,não se sabe .
A psicologia tambèm não diz nada a
esse respeito.
Os romances,que são mais amplos
expositores da matéria ,não avançam
coisa alguma ao que está dito desde o
tempo de Labão e Rachel
atè a neta do arcediago e
filho de Ricarda .
Dizer que o AMOR è a sensualidade ,
além de grosseira definição , è falsidade
desmentida pela experiência .
Hà um AMOR que não rasteja nunca
no raso estrado das prospecções orgânicas .
Dizer que o AMOR è uma operação
puramente espiritual è um devaneio
de visionários , que trazem sempre
as mulheres pelas estrelas , ao mesmo
tempo que elas, gravitando
materialmente para o centro do globo,
comem e bebem à maneira dos mortais ,
e atè as divindades de cantor de Aquiles.
Eu conheço homens sem faísca , que
se abrasam tocados pelo AMOR como
fósforo em presença do ar .
Eis aqui um fenómeno eminentemente
importante .
Ele , sò , sustenta a tese que o AMOR
não tem nada como corpo nem com o
espírito.
Eu creio que è um fluído,è pena porém ,
que eu não saiba o que è fluído para me
aqui uns ares pedantescos,ensinando
ao leitor ,mais ignorante que eu , coisas
que , de certo,o não privaria de continuar
a comer e a dormir ,
Fausto Fonseca
Camilo Castelo Branco ,in A Neta do Arcediago ( 1856 )
È tão suave a fuga deste dia ,
Lídia que não parece que vivemos .
Sem duvida que os deuses nos são
gratos a esta hora,
Em praga nobre desta fé que temos
na exilada verdade dos seus corpos
não dão o alto prémio de nos deixarem
ser convivas lúcidos da sua calma ,
herdeiros um momento de seu jeito
de viver toda a vida
dentro dum sò momento , dum sò
momento Lídia ,em que afastados
das terrenas angústias recebemos
delícias dentro das nossas almas
E sò um momento nos sentimos
deuses imortais pela calma que
vestimos e altiva indiferença
às coisas passageiras.
Como quem guarda a coroa da vitória
estes fanados louros de um sò dia
guardemos para termos ,no futuro
enrugado ,
Perne à nossa vista certa prova
de que um momentos deuses
nos amam e nos deram uma
hora não nossa , mas do Olimpo.
Fausto Fonseca
Ricardo Reis ,in Odes
Heterónimo de Fernando Pessoa
Vive sem horas.Quanto mede
pesa , quanto pensas mede.
Num fluído incerto nexo,
como rio cujas ondas são
assim teus dias vê , e se te vires
passar,como a outrem , cala .
Vem sentar - te comigo , Lídia à Beira
Rio . Sossegadamente fitemos o seu curso
e aprendamos que a vida passa , e não estamos
de mãos alçadas .
( Enlacemos as mãos ).
Depois pensemos , crianças adultas , que a vida
passa e não fica, nada deixa
e nunca regressa , vai para
um mar muito longe,para
ao pè do Fado, mais longe
que os deuses .
Desenlacemos as mãos, porque não
vale a pena conversarmos .
Quer gozemos , ou não gozemos ,
passamos como o rio .
Mas vale saber passar silenciosamente
e sem desassossegos grandes .
Sem amores nem , ódios , nem paixões
que levantem a voz , nem invejas que dão
movimentos demais nos olhos , nem
cuidados porque se os tivesse o rio sempre
correria , e sempre iria dar ao mar ,
Amemo- nos tranquilamente pensando ,
que podemos se quiséssemos , trocar beijos
e abraços e caricias o que,mais nos vale è
estarmos sentados um ao pè do outro ouvindo
correr o rio vendo - o .
Colhemos flores ,tu nelas e deixa - as no colo ,
e que o seu perfume suavize o momento - este
momento que sossegadamente não cremos em
nada
,pagões inocentes da decadência .
Ao menos , se for sombra antes ,
lembra - te - às de mim depois
sem a minha lembrança te arda
ou te fira ou te mova ,porque
nunca enlaçamos as mãos ou
nos beijamos nem fomos mais
do que crianças .
E se antes do que eu levares o
òbolo ao barqueiro sombrio,
eu nada terei que sofrer ao
lembrar - me de ti .
Ser - me - às suave a memória
lembro-te assim à Beira Rio,
Pagã triste e com flores no
regaço .
Fausto Fonseca
Ricardo Reis ,in Odes
Heterónimo de Fernando Pessoa
não tenhas nada nas mãos
nem uma memória na alma ,
que quando te puserem nas
mãos o òbolo último,ao
abrir -te a mão nada te cairá .
Que trono te querem dar Àtropo
to não tire? que louros não
fanem nos árbitros de Minos ?
Que horas que não tornem da
estrutura da sombra que seràs
quando foras na noite e ao fim
da estrada colhe as flores mas
largas, das mãos mal as olhaste .
Sente - se ao sol .
Abdica e sê rei
de ti próprio .
Não te morada
habitar
como um beijo
entre os lábios
fingir ausente
e suspirar
( e o meu corpo
não se reconhece na espera )
percorrer com um sò gesto
o teu corpo
e beber toda a ternura
para refazer
o rosto em que desapareces
o abraço em que desobedeces.
Nosso amor è impuro
como a impureza è
a luz e a água e tudo
quanto nasce e vive
além do tempo .
Minhas pernas são água
as tuas são luz .
e dão volta ao universo
quando se enlaçam
atè se tornarem deserto
e escuro.
E eu sofro de te abraçar
depois de te abraçar
para não sofrer.
E toco - te
para deixares de ter corpo
e o meu corpo nasce
quando se extingue o teu .
E respiro
para me sufocar
e espreito em tua claridade
para me cegar
meu sol vertido em lua
minha noite alvorecida .
Tu bebes
e eu me converto na tua sede
Meus lábios mordem
meus dentes beijam
minha pele te veste
e ficas ainda mais despida .
Pudesse eu ser tu
e em tua saudade
ser minha própria
espera .
Mas eu deito - me
no teu leito quando
apenas queria dormir
em ti.
E sonho- te
Quando ansiava
ser um sonho teu .
E levito voo de semente
para em mim mesmo te
plantar menos que flor :
simples perfume
lembrança de pétalas
sem chão onde tombar
Teus olhos inundam os meus
e a minha vida jà sem leito
vai galgando margens atè
tudo ser mar esse mar que
sò há depois do mar .
A serenidade não feita de troça
nem de narcisismo
conhecimento supremo
e amor,afirmação da
realidade,atenção desperta
junto à borda dos grandes
fundos e de todos os abismos ;
È uma virtude dos santos e dos cavaleiro
indestrutível e cresce com a idade e cresce
com a idade e a aproximação da morte .
È o segredo da beleza e da verdadeira
substância de toda arte .
O poeta que celebra,na dança dos seus
versos , as magnificências e os terrores
e os terrores da vida,o músico que lhes
dà os tons de uma pura presença ,
trazem-nos a luz ; aumentam a alegria
e a clareza sobre a terra,mesmo se o
primeiro nos fazem passar por lágrimas
e emoções dolorosas .
Talvez o poeta cujos versos nos encantam
tinha sido um triste ,e o músico um sonhador
melancólico :
Isso não impede que as suas obras participem
da serenidade dos deuses e das estrelas .
O que eles dão , não são mais as suas trevas,
a sua dor ou o seu medo ,è sò uma gota de
pura luz,de eterna serenidade .
Mesmo quando povos inteiros ,línguas inteiras,
procuram explorar as profundezas cósmicas
em mitos , cosmogonia ,religiões,o ùltimo
supremo termo que poderão atingir è essa
serenidade.
A verdade è ideal tipicamente
jovem,o amor por seu turno ,
um ideal de pessoas maduras
e daqueles que se esforçam
para estarem preparados
para enfrentar a diminuição
das energias e a morte .
As pessoas que pensam
sò deixam de ambicionar
a verdade quando se dão
conta que o humano está
extraordinariamente mal
dotado pela natureza
para o reconhecimento
da verdade objectiva,
pelo que a busca da verdade
não pode ser actividade
humana por excelência .
Mas tambèm aqueles que jamais
chegam as tais conclusões fazem,
no decurso das suas experiências
inconscientes ,um percurso semelhante.
Ter consigo a verdade , a razão e o
conhecimento,consiguiràs distinguir
com precisão entre o Bem e o Mal ,
e em consequência disso,poder julgar ,
punir e sentenciar , poder fazer e
declarar guerra -tudo isto è próprio
dos jovens e è a juventude que assenta
bem . Se porém , quando envelhecemos ,
continuamos a atear nos a estes ideais ,
fenece a jà se si pouco vigorosa capacidade
de reconhecer instintivamente a verdade
sobre - humana .
A tendência para colocar uma ênfase
especial ou organizar a juventude
nunca me foi cara ;
para mim , a noção de pessoa
velha ou de pessoa nova sò
se aplica às pessoas vulgares .
Todos os seres humanos mais
dotados e mais diferenciados
são ora velhos ora novos ,do
mesmo modo ora são tristes
ora alegres .
È coisa dos mais velhos
lidar mais livre , mais
jovialmente,com maior
experiência e benevolência
com a própria capacidade
de amar do que os jovens .
Os mais idosos apressam- se
sempre a achar os jovens
precoces demasiados velhos
para a idade , mas são eles
próprios que gostam de
imitar os comportamentos
e maneiras da juventude ,
eles próprios são fanáticos ,
injustos , julgam - se deten -
tores de toda a verdade
e sentem - se facilmente
ofendidos .
A idade não è pior que a juventude ,
do mesmo modo que Lão - Tsè
não è pior que Buda e o azul não
è pior que o vermelho.
A idade sò perde valor quando
quer fingir ser juventude .
Identificar - se com a mente
è ser aprisionado no tempo :
a compulsão de viver è quase
exclusivamente das recordações
e por antecipação esta situação
gera uma preocupação interminà -
vel como o passado e com o futuro
e uma falta de vontade
de dignificar e reconhecer
o momento presente e permitir
que este seja a compulsão
nasce porque o passado
lhe dà uma identidade
e o futuro contém a
promessa de salvação
de realização sob forma
ambos são ilusões
quanto mais a pessoa
se concentra no tempo
( passado e futuro)
mais sente a falta
do Agora a coisa
mais preciosa que
existe porquê que è
que o agora a coisa
mais preciosa que
existe ?
primeiro porque è o
única è tudo tudo
o que existe o
presente eterno
è o espaço no
âmbito do qual
a vida se
desenrola o único
factor que permanece
constante a vida acontece
agora
nunca houve uma altura
em que a vida não fosse
no agora nem nunca
haverá
em segundo o agora
è o único ponto que
pode levar o leitor
além dos limites
circunscritos da
mente è o seu
único ponto
de acesso
ao mundo
eterno e sem
forma ser
alguma vez o leitor
experimentou fez
pensou ou sentiu
fora do agora ?
è possível que
alguma coisa
aconteça ou se dê
fora do agora ?
a resposta è óbvia
não è ?
nunca nada aconteceu
no passado mas sim
no Agora
nunca nada vai
acontecer no futuro
mas sim no Agora .
Diz o meu nome
pronuncia - o
como se as silabas
te queimassem
( os lábios
sopra - o com suavidade
de uma confidência
para que o escuro apeteça
para que se desatem
os teus cabelos
para que aconteça
Porque eu cresço
para ti
sou eu dentro de ti
que bebe a última
gota e te conduzo
a um lugar sem
tempo nem contorno
porque apenas para os
teus olhos sou gesto
e core dentro recolho
- me ferido exausto
dos combates em que
a mim próprio me venci
Porque a minha mão
infatigável procura
o interior e o avesso
da aparência
Porque o tempo
em que vivo
morre de ser
ontem
e è urgente inventar
outra maneira de
navegar outro
rumo outro pulsar
para dar esperança
aos portos que
aguardam pensativos
Foi para ti
que desfolhei a chuva
para ti soltei o perfume da terra
toquei o nada
e para ti
foi tudo
Para ti criei todas
as palavras
e todas me faltaram
no minuto que talhei
o sabor do sempre
Para ti dei voz
as minhas palavras
as minhas mãos
abri os gomos do tempo
assaltei o mundo
e pensei que tudo estava
em nòs
nesse doce engano
de tudo sermos donos
sem nada termos
simplesmente porque
era noite e não
dormíamos eu descia
no teu peito para me
procurar e antes
que a escuridão
cingisse a cintura
ficávamos nos olhos
vivendo de um sò
amando de umas sò
vida .
Se achas que a situação
da tua vida è insatisfeita
ou atè mesmo intolerável
sò te rendendo primeiro
consiguiràs quebrar o
padrão de resistência
inconsciente que perpétua
essa situação
render - se è perfeitamente
compatível com tomar
providências como iniciar
uma mudança ou alcançar
metas
mas no estado de rendição
há numa energia totalmente
diferente uma qualidade
diferente que ocorre no
que fizeres
ao renderes- te ligaste - te
novamente energia da fonte
de ser e se o que fizeres
estiver infuso do ser
tornar - se - à uma
celebração rejubilaste
da energia da vida
que te levará mais
profundamente para
dentro do Agora
através da não resistência
a qualidade de tido o que
fizeres ou criares
será incomensuravelmente
realçada os resultados
tomarão conta de si próprio
e reflectirão essa qualidade
poderíamos chama - lhe
" acção rendida "
Não è o trabalho tal como
conhecemos desde a milhares
de anos a medida que mais
seres humanos forem despertando
a palavra trabalho desaparecerá
do nosso vocabulário e talvez
se crie uma nova palavra em
sua substituição .
No avesso das palavras
na contrària face
da minha solidão
eu te amei
e acariciei
o teu imperceptível crescer
como carne da lua
nos nocturnos lábios entre abertos
E amei - te sem saberes
sem o saber
amando de te procurar
amando de te inventar
No contorno de fogo
desenhei o teu rosto
e para te reconhecer
mudei de corpo
troquei de noites
juntei crepúsculos e alvorada
Para me acostumar
à tua interminente ausência
ensinei as timbilas
a espera do silêncio
a escuridão as trevas
desesperadas è esse o
círculo terrível do dia -
a - dia por que è que
uma pessoa se levanta
de manhã come bebe
e deita - se outra vez ?
a criança o selvagem o jovem
saudável animal não padecem
sob a rotina deste círculo de
coisas e actividades
indiferentes aquele a quem
os pensamentos não atormentam
alegra - se como levantar pela
manhã e com o comer e o beber
achaque è o suficiente e não quer
outra coisa
mas quem viu esta naturalidade
perde - se procura no discurso
do dia ansioso e desesperado
os momentos da verdadeira
vida cujo cintilações as torna
feliz e que apagam a sensação
que o tempo reúne em si todos
os pensamentos relativos ao
sentido e ao objectivo de tudo
podem chamar a esses
momentos criadores porque
parece que trazem a sensação
de união com o criador porque
se sente tudo como desejado
mesmo que seja obra do acaso
è aquilo que os mistìcos chamam
união com Deus talvez seja luz
muito clara desses momentos
que faz parecer tudo tão escuro
talvez a libertadora leveza desses
momentos faça sentir o resto da
vida tão pesada pegajosa e
opressiva
não sei não aprofundei muito
o pensamento tirada filosófica
mas sei que há bem -aventurança
e um paraíso tem de ser uma
duração incólume de tais
momentos e se pode obter
esta felicidade pela sublimação
na dor não há nenhuma do que
justifique a fuga .
Todas as crianças ,enquanto
ainda vivem do seu mistério,
estão sempre ocupadas nas
suas almas com à única coisa
importante,que são elas próprias
e a sua relação enigmática
com o mundo a sua volta .
Os descobridores e as pessoas
sabias voltam a essa ocupação
a medida que amadurecem.
A maioria das pessoas , no entanto,
esquecem - se e deixam para sempre
este mundo interior que è realmente
significativo muito cedo nas suas vidas.
Como almas perdidas elas vagueiam ,
durante todas as suas vidas,num
labirinto multicolorido de preocupações,
desejos e objectivos ,mas nenhum deles
habita verdadeiramente nos seus íntimos
nem os levará ao seu núcleo mas íntimo
e à sua casa.