sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Vem sentar - te comigo , Lídia à Beira Rio .

Vem sentar - te comigo , Lídia
à Beira Rio .

Vem sentar - te comigo , Lídia à Beira
Rio . Sossegadamente  fitemos o seu curso
e aprendamos que a vida passa , e não estamos
de mãos alçadas .
        ( Enlacemos as mãos ).

Depois pensemos , crianças adultas , que a vida

passa e não fica, nada deixa
e nunca regressa , vai para
um mar muito longe,para
ao pè do Fado, mais longe
que os deuses .

Desenlacemos as mãos, porque não
vale a pena conversarmos .
Quer gozemos , ou não gozemos ,
passamos como o rio .

Mas vale saber passar silenciosamente
e sem desassossegos grandes .
Sem amores nem  , ódios , nem  paixões
que levantem a voz , nem invejas que dão
movimentos demais nos olhos , nem
cuidados porque se os tivesse o rio sempre
correria , e sempre iria dar ao mar ,

Amemo- nos tranquilamente pensando ,
que podemos se quiséssemos , trocar beijos
e abraços e caricias  o que,mais   nos vale è
 estarmos sentados um ao pè do outro ouvindo
correr o rio vendo - o .

Colhemos flores ,tu nelas e deixa - as no colo ,
e que o seu perfume suavize o momento -  este
momento que sossegadamente não cremos em
 nada
,pagões  inocentes da decadência .

Ao menos , se for sombra antes ,
lembra - te - às de mim depois
sem a minha lembrança te arda
ou te  fira ou te mova ,porque
nunca enlaçamos as mãos ou
nos  beijamos nem fomos mais
do que crianças .

E se antes do que eu levares o
òbolo ao barqueiro sombrio,
eu nada terei que sofrer ao
lembrar - me de ti .

Ser - me - às suave a memória
lembro-te assim à Beira Rio,
Pagã triste e com flores no
 regaço .

Fausto Fonseca

Ricardo Reis ,in Odes
Heterónimo de Fernando Pessoa






Sem comentários:

Enviar um comentário

o tempo

escoa - se por entre os teus cabelos em ti as leivas as fontes as fontes e as sementes os mais secretos caminhos em ti as searas ainda futur...