quinta-feira, 11 de agosto de 2022

o tempo

escoa - se por entre

os teus cabelos

em ti as leivas

as fontes as fontes

e as sementes

os mais secretos caminhos

em ti as searas ainda futuras

mas tão magnificas e reais

da tua epiderme já brota o calor

suave e o olor das espigas ou de sexo ?
 

em ti a suavidade

a força

a medida exacta

a palavra

uma vez dita !

em ti a musica a arquitectura

perfeita

a harmonia das cores e dos volumes

em ti a poesia e a fecundidade

o tempo tu o medes o alongas e amesquinhas

o temo sopra dos teus lábios 
 

tu ès o tempo

amor

em, ti minha inteira condição

minha miséria e grandeza

minha plena humanidade

em ti minha dignidade


ò sopro

ò renovação incessante tenaz

pura e veemente como o aço

a raiva e a doçura do nosso desejo !
 

quarta-feira, 10 de agosto de 2022

o mais belo poema

não o escrevi nunca

esculpi - o

no tremor vagaroso

do teu corpo

embriagado por palavras


por dizer !

 

as mãos

palma com palma

diz

não digas a palavra

as palavras vão de vaga

em vaga


neste crepúsculo as palavras

ainda fazem algum sentido ?


seremos nòs eu e tu as palavras

iremos os dois juntos de mãos dadas ? 
 

O amor

è a violação da integridade do individuo

è tocar com as mãos os limites do homem !
 

O fim do verão

as crianças

voltam correm no molhe

correm no vento

tive medo que não voltassem

porque as crianças as vezes não regressam

não se sabe bem porquê

mas tambèm elas morrem

ela frutos solares

romãs laranjas dióspiros

sumarentas no Outono


a que vive dentro de mim voltou

continua a correr nos meus dias


sinto os seus olhos pequenos a brilhar

como pregos cromados

sinto seus dedos a cantar com a chuva


a criança voltou corre no vento
 

ouço falar

da minha vocação mendicante

e sorrio porque não sei se tal

vocação não è apenas uma escolha

entre as riquezas

como Keats diz ser a poesia


descia a rua pensando

nisto atravessei o jardim


um cão saltava a minha frente

louco com as folhas de Outono


que iniciara que principiar

e doiravam o chão


a musica digamos assim

a que toda alma aspira o melhor dele


corria a minha frente subia por certo

aos ouvidos de deus


com a ajuda de um cão que nem sequer me pertencia

 

Chá da vida

chá de rosas

das tuas pétalas

arranco uma a uma

das mais belas deixo

para trás as venenosas

adiciono - lhe um pouco

do meu sentimento diluo - lhe

tambèm um pouco de dor

enquanto o bebo recordo - me

de cada momento passado entre nòs


e este momento è para ti flor !


flor da minha vida que vou regando

com as minhas lágrimas nesta terra


perdida em letras desta página


como ès linda e viçosa não te quero

deixar murchar
 

sem bússola navego

perdido a espera de me afundar

na tua presença

mas o meu coração magoado

è incapaz de navegar è um barco

ancorado na tua indiferença
 

trigo

da nossa erva

erva mà por isso

eu sou hoje esta

semente nova
 

o tempo

escoa - se por entre os teus cabelos em ti as leivas as fontes as fontes e as sementes os mais secretos caminhos em ti as searas ainda futur...