quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

O AMOR INFINITO

O amor infinito

Da mulher que nos comove e enlava
è a parte impoluta que ela tem do céu ;
è a magia que a fala exercida obedecendo
a interno impulso , não sabido dela ,
não sabido de nòs . ali há mensagem
de outras regiões ; aqui , no peito

arque jante , nos olhos , nos olhos
amarrados de gazozas lágrimas , há
um espirar para o alto ,um  ir - se o coração
arvoando desde os olhos , desde o sorriso
 dela para soberanas e imorredouras alegrias .

Nòs  que não sabemos nem podemos ver senão
um pouquinho desse infinito     que nos entre - luz
nas graças do primeiro amor , do segundo amor ,
de quantos   estremecimentos de súbita embriaguez  
nos fazem querer que despimos o invólucro de barro
e pairamos alados sobre a região das lágrimas .

È Deus que não quer ou somos nòs que não podemos
 prorrogar a duração ao sonho?

Se  Deus , que mal faria à sua divina grandeza que o
pequenino guzano o adorasse sempre ? Porque vai
tão rápida aquela estação em que o homem è bom
porque ama , e è caritativo e dadivoso porque tudo
sobeja à sua felicidade ? Quando apoderam ali - ar - se
um amor puro com a impureza das intenções ?

Quais olhos de homem afectivo e como santificado
para o seu amor recusaram chorar sobre desgraças
estranhas ? Que exuberância de bens a desdobrar
da alma ! Que ânsia de fazermos em redor de nòs
alegrias , fortunas mãos erguidas connosco a bem -
- dizer os contentamentos que nos chove o manancial
dos  puros deleites  .

Não è Deus que nos agourenta as alegrias castas , as
expirações que não sabemos que luz è essa que lhe
comprazem . Nòs è que não sabemos que luz è essa
da nova manhã que dentro nos alumia voluptuosidade
desconhecidas . Atribuímos aos efeitos os prestígios
da causa . È que não podemos ver por longo tempo
a mensageira dos mundos estrelados : quisemos pôr
a mão na vara que nos encantou ; e a vara fez - se
serpente , porque a alma imaculada jà não era da
nossa ansiedade . O homem  , escurecido jà o
 interior , viu a mulher ao sol da terra , sol que
 incende o sangue , e abrasa o rosto e cresta as
asas dos anjos , aì dos anjos em carne que olham
depois em si escolhem do Paraíso ! Desde esse
 momento a luz do homem , o calor das paixões
radia do montante de fogo que empunha o executor
da alta justiça . Fora do éden está o inferno .
A baliza encravada na fronteira maldita chama - se
 Tédio .

Camilo Castelo Branco , in O Santo da Montanha ( 1866 )
Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco
( Amor - Mulher )





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