Querida , o eu viver era um letargo ,
nenhuma aspiração te atormentava ;
afeita jà do jugo ao duro cargo , teu
peito nem sequer desafogava ,
Fui eu que te apontei um mundo largo
de novas sensações ;
teu peito ansiava
ouvindo - me contar caricias ,
do livre e ardente amor tantas
delicias !
Não te mentia , não .
Senti - o , filha , esse
amor sagrado imaculado ,
estrela maga que incessante
brilha da alma pura ao castro
amor sagrado ; afecto nobre
que jamais partilha o coração
vicio ulcerado .
Não sentes , nem recordas ,
jà sequer ?
Quem deste amor te despenhou ,
mulher ?
Eu não ! se muitos crimes me
desluzem , se podes transviar - me
seu encanto , ao menos uma só não
me recusem , uma virtude ; amar - te
tanto !
embora injúrias contra mim de cruzam ,
cuspindo insultos neste amor tão santo ,
diz tu quem fui , diz tu quem sou ,
e se è verdade o opróbrio aviltador
da sociedade .
Camilo Castelo Branco , in Poem a dedicado a Ana Plàcido ( 1857 )
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